DEDOS DE PROSA

O bar, àquela hora da noite, estava quase vazio...

Pintada, decotada e sozinha, uma moça bebericava ao pé no balcão.

Após duas doses, o gordinho resolve se aproximar:

– Você é uma tremenda de uma gostosa, meu anjo.

– Não sou anjo nenhum, muito menos sua. Quanto à ‘gostosa’, eu concordo. Sou mesmo.

– Eita, que agora você já está sendo convencida, né?

– Realista é a palavra certa. Realista! Você mesmo não percebeu meus atributos?

– Tem razão... Escuta, você não vai olhar pra mim, não, hem?

– Por que eu deveria?

– Porque até onde eu sei, isso demonstra um pouco de educação, pelo menos...

– Bobagem, cara. E, olha, é melhor você me deixar em paz, que hoje não estou no meu melhor momento, não!

– Deixo, sim. Mas não sem antes lhe dizer que essa coisa que você está fazendo aí é meio nojenta, sabia?

– O quê, além de ser importunada num bar por um bêbado descarado?

– Ficar assim, mexendo a bebida com o dedo...

– Pois saiba o senhor que o meu indicador está muito do limpo, viu?

– Me desculpe, moça, eu não queria falar isso... Por favor, olhe pra mim...

– Aliás, todos os meus dedos estão superlimpos!

– Olhe pra mim, por favor... Converse comigo!

– Inclusive este dedo, olha aqui!

O dedo médio em riste e o olhar fulminante não assustam o rapaz.

Pelo contrário, ele até que gostou. De certa forma, já era um começo... Pequeno, mas era!

Hélio Sena
Enviado por Hélio Sena em 31/07/2015
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