No País das Maravilhas

- Macacos me mordam! Dizia a mãe de Raimundo, com toda a raiva do mundo. A coitada era quem trabalhava sol a sol, em sua lanchonete, pra sustentar seu filho pequeno e se manter. Mulher que foi criada no batente desde o nascer. Não teve muito tempo pra estudar e ser. Não conseguia compreender por que o seu filho mais velho era tão preguiçoso. O moleque, que foi morar com o seu pai, logo que eles se separaram, cedo não quis estudar, não quis trabalhar e ainda por cima arrumou mulher, que grávida de seis meses, era mais parada do que maresia de poço.

Ai então, o moleque se queixou pro pai que não deu à mínima. O obvio lhe veio à cabeça e foi procurar a mãe, que como todas se compadeceu e lhe deu abrigo, mas como aprendeu com a vida, fez o filho ver que ele tinha que trabalhar pra ter as coisas ou pelo menos ajudar pra ser ajudado. Acontece que a mulher do moleque não queria nada e por sua vez ele também. Assim ficava um empurrando o outro pra deitar no sofá, enquanto a sua mãe ia trabalhar.

E ouvindo daqui, sentindo dali e vendo aquela falta de vontade. Alice sentenciou.

- Raimundo estive pensado. Vou montar uma banca de bombons pra ti em frente ao colégio da esquina e você vai se virando. Aquele rapaz a olhou e como a compor com a companheira nada disse e se deitou pra dormir.

A mãe percebeu certo deboche, porém não levou a sério.

Na manhã seguinte acordou o seu filho cedo e disse acorda a tua mulher pra fazer o café pra você, que eu e o Luis já tomamos o nosso. Observando-o viu que a moça ainda dormia e ele quem teve que se vira na cozinhar e depois disso, os três seguiram pra lanchonete.

A mãe havia mandado fazer uma mesa pra acolher os bombons, que o marceneiro foi entregar. Após isso convidou o seu filho pra comprar os bombons e ambos surtiram a mesa.

Ela disse: - filho é dessa forma que posso te ajudar.

O rapaz agradeceu e ficou por lá.

Ela, lá da lanchonete o vigiava e olhou certo no relógio e leu dez horas. Pra ser mais exato dez e vinte. E o rapaz estava recolhendo a banca. De imediato ela foi questionar, mas ele se justificou dizendo que estava sentindo uma imensa dor de cabeça e que por isso estava indo pra casa.

Ela o deixou ir e fechou a lanchonete pra tirar as suas dúvidas a limpo e quando chegou em casa filho e nora estavam deitados na maior risada, a casa toda desarrumada e nem comida pronta tinha. Parecia o jardim do Éden, todos felizes com tudo que era só pegar. Apenas uma diferença, uma mulher, que realmente mais parecia um semideus tinha que se matar trabalhando numa lanchonete pra colocar pra dentro daquela casa.

Foi ai que ela reagiu. Respirou fundo e pediu aos dois calmamente que fossem embora, que fossem procurar rumo pra um futuro muito, mais muito incerto.

Eles não se fizeram de rogado e se alevantaram, pegaram os seus trapos e saíram porta a fora. Alice matutando a vida daquele filho se perguntava mais ainda, quem era mais doido a mulher ou o seu filho, pois ambos não queriam nada, não tinham nada e pior que isso, iam botar um filho no mundo. Os dois não tinham era nem beira, andavam de um lado para o outro, sem mala, sem religião, sem estudo, sem juízo e sem documentos.

Aquela mulher com o coração apertado com o seu filho menor ao lado disse:

- Você está vendo!...Por isso meu filho, que eu te imploro pra estudar, pois se eu não tive cabeça, se eu não tive quem me ajudasse, se o teu irmão não pensa, não ouve e não enxerga, se o teu pai nem sei por onde está, você não precisa se igualar. Afinal alguém na família tem que prestar e você é o meu escolhido. Por favor, não deixa o futuro pensar que não há jovens com idéias pra essa vida difícil mudar.

- Não espera pelo Estado, não acredite em contos de história, pois só quem faz mudar somos nós, que lutamos com a força da alma.