Mr. Dalloway


Um pensamento. Um silêncio.
Um novo dia.

Mr Dalloway. As horas, minutos e segundos.
O tempo poderia, por si só, reproduzir sua figura como um quadro que jamais mudara de lugar.
Seus dedos tocavam o nada e no nada criavam formas inimagináveis.
Mr. Dalloway. Um sinal dentro do olho. A primeira hora. A repetição.
Primeiro os outros, depois ele. Ele por último. A pasta, a chave do carro, o sinal vermelho.
Os astros seguindo sua órbita celeste e Mr Dalloway seguindo o correr das horas com milimétrica precisão. Não se percebia, em que mundo andava o seu pensamento?
Calçava seus sapatos Oxford sem ter consciência do que estava a fazer nem do que faria em seguida. Faria, simplesmente.
A camisa branca esperava no armário pela hora de descansar em seu peito, afagar suas costas e com ele sair ao som imaginado de uma sinfonia de Beethoven.
Os gatos, impassíveis, seguiam seus movimentos com olhares despretensiosos. Sabiam que não precisavam pedir, a comida viria, a água, o leite e os afagos. Aliás, não só os gatos, todos sabiam que Mr Dalloway era o Sim.

O relógio marcava as horas de ser olhado sem haver necessidade. Mr Dalloway era o Tempo. Regia o alongar do dia como um maestro experiente a guiar uma grande orquestra e se voltasse para receber os aplausos da noite qual elegante platéia.
Mr Dalloway, amor secreto de Calíope, amor rasgado de Erato, amor ardente de Euterpe.
Mr Dalloway, o Sol.
Não brilharia tanto se conhecesse o seu dom de brilhar.
Seus olhos iluminavam as estrelas que se lançavam para a morte por um segundo de sua atenção. Não se apagava, não se cansava, jamais concebera a ideia de espelho. Por isso mesmo é que todos nele se espelhavam. Todos ansiavam ver-se em seus olhos, ouvir-se em sua voz, tocar-se em sua pele.
Todos desejavam-no como Alcibíades a Sócrates mas Mr Dalloway, como o filho de Sofronisco, amava tão somente a eterna procura pela sabedoria.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 08/08/2015
Reeditado em 13/08/2015
Código do texto: T5339775
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