Música, melancólica melodia

Tocava aquela música triste como se fosse a última vez, se infiltrava nos mais puros acordes e sentia a melancolia lhe invadindo. A melodia soava triste, chorona, depressiva. Ele tocava triste, chorão, depressivo. Sentia a melancólica harmonia invadir seu corpo vagarosamente, as notas lhe machucavam a cada momento em que eram tocadas, os acordes lhe traziam a mais profunda tristeza esquecida nos cantos mais escuros da vida. Nada mais era ouvido, só a triste música, as tristes notas, os tristes acordes. E só a noite lhes ouvia, ele e o violão. Sentia-se cada vez mais engolido pela solidão, cada vez mais no fundo... e a melodia ganhava vida a cada momento em que era provocada, e sua vida provinha da vida dele, quanto mais se sentia viva mais ele se sentia morto. Era como um morcego que para viver, precisa retirar o sangue de outro animal; a melodia, para se manter viva precisava sugar a vida dele. E ele se entregou, sentindo as notas, se contorcendo de tristeza por dentro, com sentimentos mortos, lúgubre, soturno. E foi perdendo as forças, os dedos fracos não conseguiram retirar mais acorde algum, silenciando a música, e foi neste momento em que a melodia tinha ganhado totalmente a vida, e ele deixou o violão cair e logo depois caiu. A melodia ainda tocava constantemente em sua mente até ele fechar os olhos e dar o último suspiro. Triste, agora sem vida.

Calor do cão
Enviado por Calor do cão em 24/09/2005
Reeditado em 24/09/2005
Código do texto: T53481