O Dia da Ira

A noitinha, quando todos estavam a mesa do jantar, Sophia, que tinha vindo da escola, devidamente asseada e alimentada, e que já estava deitada tirando aquela soneca de fim de tarde ao outro dia. Levantou-se e com os seus pezinhos a descobrir, que o seu pai, sua prima, seu avô e sua mãe estavam começando a comer.

Cheia de dengo veio, e veio chorando, chupando o dedo para o lado de sua mãe. Como toda criança, bastou um ralho leve e ela se aquietou. Apenas se escorou na mãe e ainda com o dedo na boca vez em vez cochilava.

Conversando sobre como fora o dia em seu trabalho o avô estava com a palavra, quando de repente, na chamada do jornal, a televisão anunciou um comercial, que todos não sabiam precisar quando começou, porque estavam com a atenção voltada ao que dissera o vovô, mas naquele instante, roubando a cena, o príncipe João, em desenho animado apareceu chupando o dedo e dizendo “mamãe”.

Todos na sua livre iniciativa olharam em direção a Sophia, que mesmo com a pouca idade, como se a entender a acusação, de pronto falou:

- Não é justo, não é justo!

E chorando saiu da ilharga da mãe. Correndo desenfreadamente foi buscar refugio da encarnação no seu quarto. Todos, que estavam a mesa não conseguiram se conter e começaram a rir da atitude daquela menininha de apenas quatro anos.

O pai e a mãe, então, deixaram a mesa e foram em socorro da filha, que ao perceber o apoio dos pais fomentou o drama, chorando um pouco mais e acabou naquela noite, no colo do seu pai, dormindo em paz.