A Inimizade Entre as Gerações do Gavião e do Galo

Certo dia o gavião apostou com o Sol em como o iria ganhar na corrida, achando que ele era o mais veloz. Para esta aposta, o Gavião contava muito com o apoio do seu amigo e compadre, o senhor Galo que possuía o relógio.

O Gavião disse ao seu compadre:

- Compadre preciso da sua colaboração para ganharmos o Sol e antes deste nascer, eu devo partir ao seu encontro.

-Não tem problemas, compadre, porque o melhor relógio está na minha memória, porém, durma à sombra da árvore para que o bagre possa lamber-te como símbolo de honra a este nosso pacto. Respondeu o Galo.

No dia combinado, o Galo dormiu demais e não despertou para cantar à meia-noite como de costume para alertar o compadre e fê-lo somente às cinco horas, ao nascer do Sol. Além disso, o Galo perdeu o seu relógio na areia.

Lá levantou-se o compadre Gavião para a competição mas era tarde demais. Horas depois do vôo, o Sol começou a queimar-lhe e a proferir ameaças de que se continuasse a aproximar-se iria torrar-lhe e o Gavião decidiu desistir, perdendo assim a aposta.

De regresso e, por vingança, o Gavião apanhou os filhotes do compadre Galo e disse:

- De hoje em diante declaro-te como o meu maior inimigo por me ter traído perante o Sol com o seu falso relógio e por isso, em todo o lado onde encontrar os teus filhos hei-de levá-los.

Desde então, as Galinhas passaram a procurar o relógio do Galo e a perscrutar o céu se o gavião surge para levar os filhos. O Gavião por sua vez passa a vida a realizar vôos rasantes à procura dos filhotes do ex-compadre Galo.

Salueira Costa, 23/06/07

Conto de transmissão oral da comunidade Ovimbundo do Huambo-Angola.