O Ano de Diocleciano.
Reencontrei Diocleciano debaixo da tenda do quiosque da dona Jurê. Era primavera naquele tempo onde os homens derretiam debaixo do sol. Diocleciano balbuciava coisas desconexas sobre sua infelicidade de ter tudo menos massa encefálica. Sua grande falência era pensar como um cão e não ladrar feito os mesmos. Era rico, no sentido financeiro, tinha olhos verdes como certos labradores ou pastores, tinha um BMW prata com bancos de couro polido da melhor vaca da Escócia, aquela que participou da capa de Mother de Pink Floyd, uma poupança grande e poupuda que lhe garantiria leite ninho pelo resto de seus dias. Mas aquilo não era o suficiente porque Diocleciano insistia dentro de si que não passava de um cérebro de cão que não ladrava. E, poxa, como ele queria latir. Era seu grande sonho! Latir, sair por aí correndo atrás dos carros e mijando em seus pneus, seguindo um dono arrastando seu pescoço pela coleira. Não! Não! Não! Mil vezes não! Diocleciano não era um cão!
Ali, debaixo daquele toldo da tenda do quiosque da dona Jurê Diocleciano jurava que a felicidade é uma pata cravada no cimento da calçada.