CONSCIÊNCIA CRACKUDA

 
 

Pela viela no final da tarde caminhava o viciado em crack, de idade indistinguível, com aquela magreza e roupas largadas caracaterísticas, parece que procurando nem ele sabe o que nem onde. Quando então apareceu o carro da polícia. Os omi! Que parou abruptamente ao lado do rapaz, abordando-o. Só que buzinando, com as luzes acesas e a todo barulho. 
_ E aí mala? Tá traficando ou quer roubar?  Por que tá rodando por aqui?
O policial sabia bem que no final da viela havia um ponto de venda de drogas. E como sabia! O rapaz respondeu:
_ Dá liceeeeeeeeeença véi! Tô di boa. Só tô andando. Fica na sua seu puliça, vê se liga! Vê se me erra, tá ligado? Eu conheço meus direito. Até parece que você não sabe.
O policial ficou indignado. Pois se ele não estava ligado, o carro estava. Pensou até em prender o sujeitinho atrevido. Mas o danado, ele sabia (polícia sabe tudo), era "de menor".
_ O que você falou seu bagaço? Vou te pegar e atravessar de bala, e depois vou te desovar no lago do Jardim Botânico.
_ Vê se me erra seu puliça. Cê é pior que eu. Já te vi no ponto pegando o seu do traficante. Vô é te denunciá. Vou chamar a Tv Record. Vai ser aquela zooeria. Vai sair até no Fantástico.
De um rompante o policial colocou o carro na calçada, acelerado e arremessando a viatura sobre o adolescente viciado. E o rapaz correu correu e correu, até desaparecer após virar na esquina. E sumiu de vista. Escapou. Mas aprendeu que dizer a verdade produz seus efeitos. Bem como a polícia, pelo menos nesse caso, sabe que quem tem consciência da verdade representa perigo aos donos da mentira.