Amigos e Amantes

As coisas são como são, acontecem porque isso faz parte. A arte é um separar de pequenas coisas, tratadas como se nelas se desse uma metamorfose. Procuremos deixar passar de crisálida a borboleta a história da Luana, afinal bem simples.

Ela é uma rapariga nova e independente, vê-se exactamente como a vêem: é uma presa que anda à caça das suas próprias experiências e já não tem grandes ilusões. Verem-na como presa desenvolveu nela um sentido subtil de ironia, como é inteligente brinca sem ofender nem aleijar e aproveita o que se aproveita. É sempre bom ter relações saudáveis.

Acaba de receber uma mensagem no atendedor, a voz de Juliano. Juliano & Luana, se montassem uma empresa, até que não estaria mal, pensou, como quem quer rir, sorri. O amigo estava a dar a volta brilhantemente ao "fora" que lhe dera, era capaz de vir a ter sorte...

Agora para a estória dum inventado narrador omnisciente, à procura de dar por concluída a conclusão de ter pegado numa continuação... Luana anda mesmo com um homem mais velho, é delicado e sensível mas não lhe abre a porta do carro nem lhe alimenta vícios, a não ser que o vício dela seja ele.

Ela, sem romantismo, vê a história deles, não como uma estória, essa vou eu resumir e deixo-a inacabada: uma história de amor. Começada há dois anos num bar, ouvindo jazz. A música baixou num swing de harmonias e sensibilidades dum trio brilhante, ao lado dela estava ele. Poisou-lhe a mão numa mão que ela abandonara sobre o balcão, piscara-lhe um olho. Ao piscar do olhou retirou a mão que pegou no copo, beberam e continuaram até ao final da música a ouvir o gozo dum perfeita improvisação. Depois ele seduzira-a, nem tinha como contar, fora brilhante.

Convidara-a a ir com ele, para lhe poder mostrar uma "colecção de poemas". Fora e continuavam... amigos e amantes.

http://www.verbeat.org/blogs/miltonribeiro/arquivos/2007/06/o_conto_que_nao.html

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 26/06/2007
Reeditado em 27/06/2007
Código do texto: T542344