O Recruta atrapalhado

O Sargento estava de serviço no quartel e começou a sentir aqueles sintomas de quem quer esvaziar o bucho. Como precisava dar uma saída estratégica para executar o número dois, chamou um Recruta, que no momento era o integrante da tropa que se encontrava mais próximo, para que na sua breve ausência assumisse o atendimento às ocorrências que por acaso surgissem. Autêntico capiau, o Recruta tentou escapar de assumir tão “espinhoso” encargo! Mas não teve jeito. Ante a emergência caberia a ele assumir a tarefa delegada pelo graduado. Tão logo o superior se afastou para a sua inadiável diligência, começaram os problemas. Como lhe faltava um quê de traquejo civilizatório, assemelhava-se mais a um homem das cavernas que a um Homo Sapiens, aquele momento para ele se tornou angustiante. Foi acometido de incontrolável tremelique e desmedido pavor só em pensar no surgimento de qualquer ocorrência, a mais simples que fosse, durante aquele breve período de interinidade.

Minutos após a saída do superior, o telefone tocou. Estava o Recruta diante de sua primeira “difícil” missão! Havia a suspeita de que, em toda a sua existência, ele jamais tenha atendido a uma chamada telefônica. Apavorado ele se dirigiu ao aparelho que estava em chamada, a fim de atendê-lo. Quando ia chegando perto do seu objetivo, eis que um segundo aparelho telefônico também tocou. Aos berros ele recorreu ao Sargento, que não se encontrava muito distante.

- Sargento!

- Sargento!

- Chega rápido Sargento, que tem dois telefones tocando!

- Os dois estão tocando, Sargento, chega rápido!

Enfurecido com a falta de iniciativa do recruta, rispidamente lá do recinto solitário onde se encontrava aboletado na privada, bradou o Sargento:

- Atenda ao telefone seu palerma, e anote o recado! Você não percebe que eu estou ocupado?

Tremendo qual vara verde e todo atabalhoado o Recruta obedeceu à ordem de seu superior. Apossou-se dos dois aparelhos levando-os simultaneamente aos ouvidos e, com a voz meio embargada, falou:

- Alôres!

Alôres!

Fala primeiro quem ligou primeiro!

- O que você disse?

Indagou alguém do outro lado da linha

- Fala primeiro quem ligou primeiro, repetiu o Reco.

Imaginem caros leitores, o que o matuto recruta ouviu do seu interlocutor? Coisa boa não foi, porque ele colocou imediatamente os telefones nos ganchos e pôs-se a esperar o Sargento para lhe relatar o ocorrido.

Relatou. Mas, depois do que ele também ouviu do seu superior hierárquico, ficou de semblante caído e, intimamente, processou ligeira reflexão.

“Talvez fosse melhor eu ter ficado na roça, puxando cobra para os pés, que “assentar praça”“.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 09/11/2015
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