Manhã do Casamento

 

A casa acordou cedo. Muitas providências deveriam ser tomadas nas próximas horas. As flores chegaram, ainda de madrugada, para serem arrumadas na sala grande e complementar as já existentes no jardim. Tulipas. A mãe fez questão de tulipas. Flores dos países baixos enfrentavam aquele calor com tristeza indisfarçável, exalando um perfume tão intenso quanto um grito de protesto àquele exílio.

        A mãe da noiva corria por todos os cantos, dando ordens e distribuindo tarefas. De lenço na cabeça, ainda não tivera tempo para se arrumar.

Em oposição a toda essa movimentação a noiva permanecia deitada na cama, olhando para o teto, desanimada. A perspectiva de enfrentar aquele dia lhe parecia pesado sacrifício. - Para que tanto rebuliço? Não sabiam que ela não vibrava na mesma sintonia alegre dos pais?

Já podia imaginar a festa. Aquelas pessoas enfeitadas, quase irreconhecíveis, disfarçadas de artistas, se amontoando a volta das mesas de salgados e doces. Crianças correndo pela casa toda aos gritos e impertinências! O noivo insípido, suando, naquele calor!

Pela milésima vez se pergunta por que concordou com aquela farsa e, no íntimo, tem a resposta: comodismo e vingança.

Sua última tentativa de reconquista daquele que era objeto de seu afeto verdadeiro, tinha acabado com seu orgulho e disposição para enfrentamentos com os pais.

Relembrou passo a passo o trajeto feito pelas ruas percorridas desde a infância; a travessia da ponte, rumo à cidade de seu amado.

Um ano. Passou-se um ano desde aquele dia e junto às lembranças de seu mal fadado encontro, vinha a imagem de uma borboleta amarela, de um paletó em tom castanho, de excelente tecido, e pelo que pode perceber de longe, de corte impecável!

Retorna ao presente, dia de seu casamento e, outra vez, aquele desânimo! Por que se deixara levar por aquele impulso? Ou melhor, pela inércia? Agora, tinha certeza de que o alvo de sua vingança estaria  pouco preocupado com aquela união. Sente vontade de sair, sorrateiramente, pela janela e fugir. Mas, para onde?

Seu romantismo a faz sonhar com um belo homem em terno marrom, cercado de borboletas amarelas lhe esperando sobre a ponte. Ambos fugiriam para as montanhas. Um chalé rodeado de árvores, lareira e trilhas sombreadas, em meio a bosques intocados.

Acorda de seu devaneio com batidas na porta:- “ Vamos, menina, levante. Hoje é o grande dia!”