Antes que o Amor se vá

Pai de Sophia desde que ela nasceu não parava em casa. Vivia viajando e nas poucas vezes que ele se encontrava com a filha, facilmente o identificava como parente próximo do coelhinho do filme de Alíce no país das Maravilhas. Pois ele vivia com pressa, vivia correndo. Três anos depois a menina cresceu e ele continuava a correr atrás de um certo ouro.

Sempre que chegava de viagem já era tarde da noite a menina estava dormindo. Normalmente ele a beijava e dizia ao seu ouvido “papai te ama”.

E nessa idas e vindas, uma vez ele ligou e até se surpreendeu, quando a menina do nada lhe falou:

- Beijo papai, Sophia te ama.

Pensativo estava fazendo uma reflexão, quando o seu chefe o mandou fazer uma nova tarefa e tudo ficou no subconsciente. Era trabalho aqui e acolá. E logo, ficou no campo do indigente.

Certo dia porém, na casa da menina, quando todos estavam reunidos na sala assistindo aqueles inebriantes programas de domingo, a menina estava brincando com sua boneca importada, que o seu pai lhe deu na última vez, a dois meses, que esteve com ela.

Falando sozinha, fazendo a boneca falar, enquanto a sua mãe, seu tio, seu avô e sua tia riam de uma situação no programa de vídeo cacetada. Ela por sua vez, pelos risos de todos que ocupavam aquela sala se viu tentada a prestar também a atenção, foi quando que coincidentemente, naquele instante apareceu um homem todo engravatado, com terno do lado e sapato preto, a andar de um lado para o outro. De súbito, sem qualquer esboço de reação de alguém, que estava dividindo a sala com ela, a garotinha Levantou-se, com ar de aflição e saiu correndo em direção a televisão, gritando sob uma felicidade:

- Mamãe, mamãe, olha "tu pai" tá na televisão!

E sem se intimidar, com os olhares confusos dos adultos ela abraçou chorando e beijando o aparelho numa felicidade pura, numa saudade nua, que fez dos que estava ali, em par com aquela doce menina, chorarem compartilhando, mesmo sem querer aquela emoção.

O fim de tarde anunciava a chuva que se esgueirava nas folhas da árvore, que sombreava o terreiro, enquanto lá na cumeeira a música tocava a canção de ninar. E quando o pai chegou outra vez, de viagem, ela já dormia.

Lhes passando a informação do acontecido, o coração daquele homem fez-se menino e sem dizer nada deitou ao lado da sua pequena e no dia seguinte pediu demissão.