A cerimônia

 

Entra na igreja, dando o braço ao pai orgulhoso, carregando um sorriso excepcional no rosto, geralmente tão severo. Vê todos os rostos voltados para ela. Olhos embevecidos e lacrimosos. Desvia o olhar para poupar-se do constrangimento, mas foi pior - ali a sua frente está o noivo.

Insípido, suando em um terno cinza e flor na lapela.

Não ouve a música de entrada nem as palavras ditas pelo padre. Flutua como uma folha de outono que vai para onde sopra o vento.

Mas, que peso é esse em seu ombro direito?

 Espantada dá um passo de lado e, amparando o noivo percebe, vagamente, sua palidez.

Ligeiro desmaio. O padre imobiliza a taça sagrada ao alto da própria cabeça e ergue as sobrancelhas, em muda interrogação. Aparece uma cadeira, abanos, assopros. Ao longe, a moça ouve sussurros: “Muito calor!; “emoção”: pressão baixa”.

As coisas se acalmam. A cerimônia continua. Noivo sentado, noiva em pé.Uma pergunta faz com que ela estremeça surpresa! É sua vez de responder: - Sim, diz sem saber por que e, novamente, flutua.

Pousa em seu jardim, debaixo de um toldo escaldante e passa a observar aquela festa, como se não fizesse parte dela. Olhos críticos, tudo vêem.

Os convidados suam ao calor do meio-dia. Só mesmo sua mãe para ter tal idéia. Almoço como recepção de casamento num clima como esse!

Acha graça na voracidade dos convidados, nos elogios que lhe fazem e, cruelmente, se delicia com o fato do bolo se desfazer em cascatas de glacê, além dos noivinhos, de açúcar-cândi, penderem completamente para a esquerda: Torre de Pizza matrimonial parodiavam a cena passada no altar.

Enquanto divagava, enxugando a testa com um guardanapo, novo alvoroço chama a atenção de todos. Os dois cães Dálmatas que o noivo havia feito questão de trazer ao casamento, sob o argumento de fazerem parte da família, se aproveitaram de um descuido e avançaram na maionese e no pernil. Abocanharam, rapidamente, tudo o que puderam e fugiram, correndo debaixo de insultos e impropérios, vindos de todos os lados.

Intimamente, a noiva, agora se divertia mais do que nunca. Pensando bem, se não fosse pelo choro e desgosto da mãe teria caído em gargalhadas.

Flutua. Redemoinhos de pensamentos vagos e imprecisos se interrompem com a trovoada prenunciadora de tempestade.

Anseia pela chuva abençoada, para lavar o ar, refrescando o ambiente e pondo um fim àquela comédia trágica em forma de festa. – Que venha chuva! Que venha a tempestade!- grita mentalmente. Pensa em puxar a toalha da mesa, feito toureiro na arena a provocar as nuvens e relâmpagos, para que se precipitem com violência e despejem água, muita água por ali.

                                                                               

 

                                                                    Célia Regina Marinangelo