Um encontro com Drácula.

Era algo próximo das 20 h, estava sentada bem no meio da praça de alimentação do shopping center esperando pelo meu namorado. Fui apossada de um peso estranho no peito e nas costas, foi uma sensação súbita, havia passado o dia inteiro bem. O lugar estava cheio, assim como era de se esperar para o dia da semana em que estava. Observava em volta enquanto tentava controlar meu mal-estar e passar o tempo ao passo que aguardava, e foi num momento de observação que notei algo... Não, na verdade notei alguém. Um homem sentado algumas mesas de distância da minha, aparentemente alto, e muito bonito apesar de esguio, usando roupas um tanto incomuns, principalmente para o calor que estava fazendo, um tipo de casaco cinzento espesso e longo; seu rosto, fino e jovial, corado a altura da bochecha, no entanto, seus cabelos eram quase totalmente grisalhos contrastando com o preto noturno que também se fazia presente em sua cabeça, o que não fazia sentido com a aparente idade que tinha, no máximo 30 anos talvez? Parecia tem mãos pequenas, entretanto com dedos longos; estava com as mãos sobrepostas sobre a mesa.

Me peguei com o olhar cravado naquele homem, não conseguia desviar meus olhos dele mesmo que tentasse de qualquer jeito, notei por fim que ele parecia olhar com desdém, ou uma profunda falta de interesse tranquila e despreocupada, ainda assim aparentava estar à procura de algo. Estava tão atenta àquele homem, que quando meu namorado chegou e tocou meu ombro, praticamente saltei da cadeira.

Ficamos ali por um tempo, meu namorado a minha frente, dessa forma quase ocultando a figura que tanto me atraia, não sei dizer que tipo de atração, mas... Enquanto conversávamos, meu olhos acabavam sempre correndo por cima de seu ombro e buscava o homem de casaco estranho, até que por fim, os nossos olhos se encontraram, aqueles olhos escuros que pareciam ter um brilho de fogo. Isso fez com que meu coração pulsasse de um jeito que nunca acontecera. Pouco tempo depois, fomos embora e por fim meu mal-estar também desaparecera.

No dia seguinte, num horário próximo ao do dia anterior, lá estava o homem, novamente com o casaco espesso, diferente da noite anterior, estava muito mais calor, e ele parecia não estar nem um pouco preocupado. Enquanto as pessoas suavam com a temperatura, aparentemente ele nem se afetava, nem uma gota de suor.

Assim que cheguei ali, o mal-estar voltara, um pouco mais pesado e incomodo. Diferente de antes, agora ele pareceu me notar, ou então tendo percebido que eu o observava, ele fez o mesmo, com seus olhos magníficos, com um encanto que nunca poderia descrever perfeitamente. Ele me assistia e eu não conseguia desviar os olhos. Havia uma tristeza misteriosa nele, eu podia perceber isso dentro de seus olhos, como se estivesse preenchido pelo vazio perfeito ou a mais terrível perda. Suas mãos sobre a mesa mudaram de posição, tal qual seu corpo. Se debruçou sobre a mesa, apoiando o queixo sobre a mão direita que acariciava a si mesmo, e com o cotovelo por sua vez, apoiado na mesa.

Meu corpo se contraia de forma incomum, tinha a impressão de que a qualquer momento iria levantar e ir até o homem que me observava agora, com a expressão imutável. O que era o encanta avassalador que tinha sobre mim? Percebi por fim, que o mal-estar aparentemente vinha dele, se é que isso é possível, por mais que meu corpo desejasse ir até lá, meu peito parecia negar com todas as forças, quase que ameaçando assassinar meu coração se me aproximasse mais.

Meu namorado chegou, contudo não consegui me focar nele e logo ele percebera que estava com a mente descontrolavelmente prese no homem que não deixava de olhar. Não conseguia ouvi-lo. Irritado fez menção de ir ‘tirar satisfação’ com o homem que também me observava abertamente, mas minhas mãos se forçaram a segurá-lo, que irritado se levantou e saiu em direção ao homem. Contudo estranhamente uma mulher extremamente linda e em uma roupa sensual o parou e o levou, ele que com menção de se vingar de minha ‘injustiça’, se permitiu ir com a mulher atraente.

Meu corpo por fim cedeu, meu coração disparou e prazerosas e consternantes contrações tomaram conta de mim. E finalmente me sentei à mesa com ele. O homem então tomou minha mão e a beijou (meu coração quase explodiu), como um doce cavalheiro de outros tempos e com um olhar devorador. Logo notei que realmente a presença dele era o motivo da terrível sensação que também se apossara de mim, impossível de descrever aquela loucura.

Levantou-se e guiou-me para fora, e num canto escuro, onde ninguém mais passava, me colocou contra a parede. Me senti como uma presa acuada, mas que não desejava escapar. Se aproximou vagarosamente, passando aqueles dedos compridos em meu rosto e ao mesmo tempo em minha cintura e barriga, tão levemente como se fosse uma leve brisa que traz consigo o prazer. Minha pele ouriçada e arrepiada se preenchia de jubilo com o toque, mas minha mente estava em terror absoluto, estava presa ali e sabia disso. Seu rosto chegou próximo ao meu, tocando seu nariz em minha face e descendo até o ponto de enfim tocar a pele arrepiada de meu pescoço com sua língua.

Meu corpo se enchia de prazer com aqueles movimentos simples, como nunca sentira antes, contudo o toque do homem misterioso era frio como gelo, como quem me tocava fosse feito disso, ou melhor dizendo, fosse um cadáver. E em poucos instantes então ele sussurrou algo em meu ouvido, por fim se afastando e nunca mais voltei a vê-lo. Fiquei ali, estática por muito tempo, e após um tempo maior ainda consegui me recordar do que ele havia falado:

—Eu sou o príncipe nas trevas. Eu destruo o labirinto dos deuses, o nascido do dragão! Tu não eres quem busco, vá.

Felizmente, eu creio, nunca mais o vi, e infelizmente nunca mais vi meu namorado e ninguém mais o viu também. E imagino o que possa ter acontecido. Deus cuide de sua alma! E Deus me perdoe, pois meu corpo ainda deseja aquele monstro...