"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 16

Beluzzi teve pena da amante. Imaginou uma de suas filhas embarcando de repente para um país estranho e deixando-o por um ano inteiro. Seria duro demais para ele. Sabia que estava sendo duríssimo para ela. Eliane passou alguns dias sendo uma péssima companhia. Chorosa, lamentando-se por tudo e por qualquer coisa., querendo morrer o quanto antes, e o coronel teve toda a paciência do mundo. Sabia que valia a pena esperar que ela voltasse ao normal, à velha e contagiante alegria que tanto o encantara desde o momento em que a conhecera. Memorizava as piadas e casos engraçados que ouvia na corporação e os transmitia a ela, fazendo-a rir mesmo com o ar constrangido que manteve por alguns dias. Ela até mesmo rira abertamente quando ele lhe contou o caso de um colega que, ao abrir a porta da casa pela manhã, dera de casa com a sogra cheia de malas nas mãos. A velha logo informou que viera para ficar uns dias e iria embora logo que se cansassem dela. O tal colega de Carlos jura ter perguntado à sogra:
- Mas então a senhora não vai ficar nem para um cafezinho?

Uma semana depois uma Eliane radiante abriu a porta para Beluzzi. O filho havia telefonado de Nova York e contado um monte de boas notícias. A tia lhe arranjara uma ótima escola, ele estava adorando a cidade, e logo iriam conhecer vários lugares que volta e meia apareciam nos filmes que viam na tevê.
- Carlos, a ligação estava maravilhosa! Parecia que meu filhinho estava falando dali da esquina. Conversamos um tempão. Ele também está morrendo de saudades de mim. Que gostoso foi falar com ele…Estou tão feliz, meu lindo coronel !
- É muito bom saber disso, minha morena linda. Então agora eu voltarei a ter minha putinha safada na cama? A minha freguesinha de coçadas e massagens? Reparou que minhas unhas estão um pouco maiores que o normal? Estão esperando por um corpo delicioso que queira ser todinho coçado e arranhado.
- Esse corpo está morrendo de saudades dessas mãos e dessas unhas, sem contar a saudade de “otras cositas más” que nada têm a ver com as mãos. Vamos pra cama dar uma tremenda comemorada pelo telefonema que recebi?
- Já estou praticamente lá. É só o tempo de tirar a roupa para andar mais depressa.
- Seu sem-vergonha? Desde quando se anda pelado na casa dos outros? Cubra pelo menos esse pinto gostoso com as mãos que eu sou uma mulher de respeito, seu safado. Mas espere que eu acabe de tirar a calcinha pra gente chegar na cama ao mesmo tempo. Estava com saudades da sua popoquinha apertada?
- Minha? Só minha mesmo? Para sempre só minha?
- Para sempre. Ou pelo menos enquanto esse seu negócio maravilhoso for apenas meu. Para sempre só meu, e de nenhuma outra mulher no mundo.
- Então pegue-o e guarde, todo pra você, nesse estojo maravilhoso, molhadinho e apertadinho que tem entre as pernas. Enquanto você tratá-lo bem ele será sempre só seu.
- Espere um pouco. Antes de guardá-lo no “estojo”, deixe-me molhá-bem. Eu estava morrendo de saudades desse pirulitão que não afina nem amolece nunca.
- Que não amolece nunca é exagero seu, meu anjo.
- Bem, pelo menos comigo eu nunca o vi olhando para baixo. Está sempre com o olhinho encostado no seu umbigo.
- É que esse é um pênis de bom gosto. Quando vê uma carinha linda como a sua, ele quer gravar na memória para sempre, e por isso não tira o olho.
- Carlinhos, pênis é pinto de doutor. Essa coisa maravilhosa que você tem é pinto, cacete, rola, menos pênis. Pênis pra mim parece pinto de óculos e gravata, coisa de cerimônia.
- Tá bom, meu amor, eu corto o pênis.
- Diga isso não, querido, me dá até arrepio.
- Corto do meu vocabulário, bem entendido…Só do meu vocabulário.

“Waldemar meu querido, já não agüento de saudades de você. A cada dia que você passa nesta cela nojenta e cheia de homens sujos e fedidos, parece que um pedacinho de você vai saindo de minha memória. Agora só me lembro, e mesmo assim mais ou menos, de seu rosto. Já me esqueci de um bom pedaço de seu corpo. Nem mesmo consigo ver como eram seus braços, suas pernas, seu vigoroso membro sexual de eterno desocupado, e o meu coronel tem me ajudado muito a te esquecer cada vez mais depressa. Infelizmente, meu querido, não poderei voltar a tê-lo em minha vida porque você é mesmo muito inconveniente. Logo ficaria enciumado, querendo matar meu lindo coronel, sem a menor paciência para esperar por um final feliz para mim, para Wilson e para você mesmo. Quando eu o visito aí nesta merda de cadeia de pobre, aliás, cadeia para ricos eu nunca vi, só vejo um pedaço de você, e é desse pedaço triste de bandido mal sucedido que tenho me lembrado sempre. Às vezes fico pensando em nossa vida em comum e acho-a cada vez mais incomum, mais idiota, mais tempo jogado fora no passado. Veja se não tenho razão: eu sou uma mulher bonita (todos os homens dizem que sou linda), inteligente, elegante, refinada, com um certo grauzinho de cultura, uma mulher que gosta de ler e de aprender, que gosta de se cuidar bem e de andar sempre muito arrumadinha e cheirosinha, e você é uma espécie de animal maltratado pela vida e difícil de se lidar. Um animal que mal consegue dar três passos sem tropeçar e mesmo assim vive bolando planos para um golpe que o tornará milionário. No final das contas vive sempre se enrascando em um assalto a uma padaria mixuruca, com cara de falida, onde nunca poderia haver mais do que uns trocados no caixa. Resultado: leva um tiro na perna, é jogado dentro do camburão como se fosse um saco de lixo, apanha um bocado e vai curtir uma cela asquerosa. Dá dó e faz-me rir. E a idiota aqui ainda gasta parte do dinheiro suado para tentar tirá-lo de trás das grades? A idiota aqui joga dinheiro nas mãos dos advogados pra tentar livrar das grades a porcaria que você é. Tem cabimento isso, meu querido? É um péssimo investimento para mim. Claro que não será nada pessoal a atitude que tomarei dentro de alguns dias. É apenas, como você mesmo diz sempre, uma remoção de “obstacle” no caminho. Não era disso que você chamava as pessoas que tinha que balear quando o assalto não ia bem? Quando alguém reagia ou parecia que ia reagir? Obs-tá-cu-lo, imbecil. Não “obstacle”. Mas agora é tarde pra você aprender. Claro que você não ficará sabendo que terei que removê-lo de meu futuro, meu querido obstáculo. Um futuro no qual vejo um belo coronel de cabelos brancos, de corpo rijo como ferro, com um belo patrimônio, viúvo, de pinto competente, à espera de quem saiba ajudá-lo a gastar. Desculpe-me, meu querido ladrãozinho pé-de-chinelo, mas dentro de alguns dias haverá uma briga violenta dentro de sua cela e a única vítima fatal será você. Prometo jamais deixar de rezar por sua alma pecadora, meu querido Waldemar do Sindicato.”
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 02/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T548943
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