SENHORITA WHITNEY

O ar condicionado estava ligado nas últimas das últimas, faltava-lhe apenas um último suspiro. Sair à rua, impossível, tamanho o bafo da falta de vento!... Naquele exato instante, surgiu, Badulak adentro, um lindo cachorro. Logo ele se pôs sob o ar do ar condicionado – como se a loja fosse a casa dele. É normal, na loja, amigos peludos entrarem com suas respectivas famílias, de humanos. Para nós, é sempre uma festa, não importa o tamanho do amigo peludo.

Ele ou ela ficou deitada, ali, apreciando a entrada e saída de clientes. Foi muito acarinhada e não só pelos nossos vendedores. Todos os que trabalham comigo têm em sua casa cães ou gatos. Somos adeptos à causa dos bons tratos aos animais, e por esta razão, levantamos bandeiras. Por isso, foi um corre-corre geral: todos preocupados com a falta de um dono ao lado da mocinha – fato que só descobrimos um pouco mais tarde. Fui para o abraço do tempo e na porta da loja percorri com o olhar os dois lados da rua (diga-se de passagem, lotada de carros) – e nada!... E agora, José?... Pensei rápido: “Será que os meus sete gatos e mais sir Uilson – um pinscher que acredita ser rottweiler – irão aceitar esse lindo presente de natal?...”. Acredito que não. Mas há de se ter um jeito porque para tudo há uma solução. Foi quando vi ao longe, acima da cabeça dos transeuntes, uma mão levantada, tipo bandeira. Meu coração na mesma hora se aquietou e um sorriso em mim logo se abriu. Em minha direção, vinha uma senhorinha muito apressada. Apreensiva, parou ao meu lado e juntou o seu olhar ao meu, na direção da loja. E lá estava Whitney, com seus dez anos de pura travessura, tomando água. Marta – assim se chamava a senhorinha – respirou fundo e nos disse:

– A idade cansa! Demos risadas pela constatação e ficamos no aguardo da saída de Whitney. – Qual nada!... Por mais apelos da sua dona, a mocinha continuou bem deitada, e com o olhar, lhe fez um eu-nem-te-ligo bem infantil. Após uma hora de apelos, Whitney levantou consciente que deveria terminar a árdua tarefa de voltar para casa. E assim, a nossa amiga peluda se foi, mas não antes de lançar um último olhar para nós, carinhosamente.

Patricia Essinger
Enviado por Patricia Essinger em 04/01/2016
Código do texto: T5500438
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