A PASSAGEIRA FOGOSA

Rosemary era uma empregada doméstica dedicada e competente.

Trabalhava há vinte anos na mesma casa. Seus patrões a respeitavam e admiravam-na, rotineiramente elogiavam seus serviços e cuidados para com a família.

Rosemary casara-se muito jovem e separara-se seis anos após. O ex- marido não era dado a ter apenas uma mulher em sua vida, colecionava sem critérios a mulherada do bairro.

Rosemary não teve filhos, por isso depositava todo amor e afeto aos filhos dos patrões, cuidava-os com zelo desde os nascimentos. Nunca mais se interessou por ninguém, dizia que homem era incômodo , " sarna para se coçar!"

Passava seus fins de semana, cuidando da pequena casa, visitando e zelando pelos seus pais que moravam ao lado, assistindo televisão. Não tinha amigas, apenas conhecidas.

Nesta sexta-feira, demorara mais do que o costume para ir para casa. Desejava deixar alguns alimentos congelados para a família que adorava,afinal não trabalhava nos finais de semana e preocupava-se com a alimentação deles.

Lavou rapidamente a louça, trocou a roupa e dirigiu-se ao ponto de ônibus.

O ônibus chegou logo e, como sempre abalroado de gente. Foi difícil entrar. As pessoas iam de empurrando se acotovelando e disputando quase a tapas um lugarzinho para ficar.

Rosemary ergueu as mãos e segurou-se firmemente na barra superior tentando desesperadamente equilibrar-se. Com os braços erguidos e parada em pé, sua blusa subiu e deixou a cintura aparecer.Ela era dona de um corpo bonito e bem distribuído.Era uma mulher bem conservada e cuidava-se bem, tinha lá sua vaidade.

Ia agarrada, escutando as reclamações e indignações dos passageiros quando sentiu algo estranho atrás de si.

Era um corpo que se colava no seu como se fossem duas lâminas fininhas. Rosemary queria olhar para trás, ver quem era, não havia espaço para virar-se.

Começou a sentir um bafo quente em sua nuca, uma respiração ofegante, um cheiro de perfume comum.

Estava petrificada, tratava-se de um homem certamente, já ouvira relatos de mulheres que diziam terem sido assediadas e até violentadas dentro dos transportes coletivos.

Ao mesmo tempo em que queria gritar e pedir socorro também pensava que poderia ser fruto de sua própria imaginação.

Novamente sentiu o corpo pressioná-la e, mais do que isso – algo firme, forte e macio – cutucava suas pernas e nádegas. Os olhos de Rosemary encontravam-se arregalados, a respiração presa em seu peito. Começou a sentir vibrações estranhas no corpo: um calafrio percorria-lhe a espinha, um suor frio descia pela testa, pescoço e descia pelo ventre umedecendo e esquentado seu corpo cansado do dia intenso de trabalho.

Fechou os olhos e permitiu-se sentir, apenas sentir. Fazia tantos anos que não experimentava o fogo do desejo! Desde a separação nunca tivera namorado ou alguém mesmo que casualmente. Estava gostando, não poderia negar!

Quem seria o homem que despertava nela tantas palpitações, tanto desejo?

Deveria gritar, pedir ajuda, mas não conseguia, queria sentir e sonhar!

O ônibus chegou ao destino de Rosemary. Os passageiros começaram a descer e, com o desafogo, Rosemary virou rapidamente a cabeça curiosa para ver quem era o homem que havia aperto a porta do porão esquecido e apagado da libido.

Quando ela viu, não conseguiu deter a palavra que lhe fugiu pela boca e olhos: - A senhora? A senhora estava o tempo todo atrás de mim?

- Sim, estava. – Respondeu à senhora gorda e idosa sem entender o porquê da pergunta.

Rosemary passou os olhos pela sacola transparente que a senhora segurava nas mãos e pode ver nitidamente as bananas grandes, amareladas que teimavam em passar por um buraco da sacola.

Rosemary caminhou lentamente, pensando,dialogando com ela mesma.

Em casa, tomou um banho demorado, escolheu um belo vestido vermelho e sexy, calçou umas sandálias altas de plataforma que nunca usara, penteou-se, perfumou-se e saiu.

Caminhou sorridente e entusiasmada para o clube local que oferecia pagode às sextas-feiras. E enquanto caminhava pensava: Dizem que a vida começa aos quarenta, pois a minha começa hoje mesmo, aos cinquenta.

SÔNIA LORENA AVER

loreninha
Enviado por loreninha em 18/01/2016
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