Abraço estranho…

Caminhando, pela rua, ia eu absorta de tudo que me rodeava. Meu pensamento, estava muito longe, estava para lá do infinito. Meus pés, caminhavam, porque já sabiam o caminho de cor, e sabiam para onde se dirigir. Pareciam, autónomos de si próprios. E eu continuaria assim, sem dar verdadeiramente conta de mim, se não fosse aquele estranho abraço, que de repente recebi e senti até ao âmago da minha alma. Senti-me a acordar, do estado de imersão de pensamento, e alheia a tudo que me rodeava e fiquei contérrita!... Não tive como reagir, nem como fugir. A mulher que me abraçava, fazia-o com tanta convicção e vontade, que eu não estava a conseguir reagir, nem em palavras, nem em gesto. E não reagiria, tão cedo se ela não me dissesse a palavra mais forte do mundo para mim. Disse alto e em bom som que me amava muito. Afastei-a, de mim, fazendo uma força bem grandinha e olhando-a nos seus olhos, perguntei-lhe quem ela era. Desatou, aos pulos e a rir em altas gargalhadas, e logo depois com um ar mais sério, olhou-me e disse-me que não acreditava que eu não soubesse. Fiquei baralhada, sei lá, acho que até bloqueei mesmo… Fiquei a olhar para ela, ali especada na minha frente, agora com um ar mais sério, e até um pouquinho grave, olhando-me, e eu tentando descortinar quem ela seria, e porque dizia ela que eu a devia conhecer.

Como não consegui descobrir, ou lembrar, respondi-lhe que não sabia, e que se o soubesse, não lhe teria perguntado quem ela era.

Pediu-me, que me sentasse no chão ali mesmo com ela, e eu disse-lhe que estávamos no meio da rua, que podíamos ir até um jardim e lá nos sentaríamos na relva. Respondeu, que não, que era ali que queria. Olhei em redor, e sentei-me em frente a ela. Agarrou, nas minhas mãos, e numa voz suave e calma, perguntou-me onde estava meu pensamento, enquanto eu caminhava absorta de tudo, quando ela veio ao meu encontro… Olhei, então pela primeira vez, bem dentro dos seus olhos, e respondi-lhe que me encontrava, bem longe, muito longe, para lá do infinito. Ela, insistiu, para que eu dissesse onde, e qual o lugar… Com uma tristeza no rosto, respondi, que no meu passado, e que estava a recordar quem eu tinha sido, e como a felicidade nessa altura me acompanhava abundantemente, ou eu assim pensava, porque sentia-a em todos os momentos dos meus dias, e que gostava, que ela voltasse, novamente para mim. Mal, acabei de falar, ela voltou a rir á gargalhada e dando pulos. Fiquei atónita, e de seguida, deu-me vontade foi de fugir dali. Parecia, um sonho, louco, muito louco, o pior, é que eu sentia tudo bem real. Ainda, estava eu, a acabar de pensar, já ela me abraçava novamente, e eu senti nesse abraço um calor, uma afetividade, amizade, uma doação de corpo e alma… Senti-me tão bem, tão querida e amada. Depois, olhou para mim, bem fundo, perscrutou meu interior, e com a sua voz calma e suave, disse-me: -“ Minha amada menina, como queres a anterior felicidade vivida, se cada vez que ela chega perto de ti, se ri, te abraça, tu pensas em fugir por não acreditares que seja ela. Ela tenta, e tenta, e tu, queres sempre ficar aí, nesse passado, nesse vazio, cinzento, mas que tu dizes que foi feliz, mas que também, te fez feridas, mágoas, que demoraram para cicatrizar, se é que já cicatrizaram, o que eu creio que não. Como queres tu minha amada menina, que a felicidade entre na tua vida, se tu própria pões um entrave.

Não queria, acreditar, no que estava a ouvir. Eu não queria a felicidade? … Fujo dela? Esta mulher está louca decerto, louca mesmo, pensava eu para mim mesma. E até que era verdade, ela era louca, só podia, da maneira que ela se apresentava, só podia ser. Era, uma mulher jovem, sem idade, (porque por vezes, parecia-me que ela era muitas idades, mas sempre jovem), cabelo de várias cores, corpo dançante, esvoaçante, formoso e belo. Um rosto oval, com um sorriso largo, um nariz perfumado, e uns olhos cor de arco-íris, coisa nunca vista, para muitos, mas que assim ao descrevê-la, parecia-me reconhecê-la, e ao mesmo tempo não conhecer. Confuso, deveras confuso!

Mas, o que é certo, é que eu pensava que ela, não tinha o direito de me dizer, o que disse, porque eu não a conhecia de verdade. Certo, que o que me disse, fez um pouco de lógica, mas eu não lhe ia dar esse direito de ela voltar a falar assim comigo. Nem, ainda tinha acabado meu pensamento, para o fazer, e já ela, me agarrava pelo meu braço, puxando-me para um jardim ali perto. Chegadas lá, disse que me sentasse, e que olhasse para ela, com os olhos da alma e do coração, que se o fizesse a iria reconhecer com toda a certeza. Quem a tinha enviado, tinha-lhe dado a certeza, de que eu a reconheceria. Contrariada, acedi ao pedido. Sentei-me em frente a ela, e perguntei-lhe, quem a enviou, e ela respondeu, que eu sabia, pois era o meu melhor Amigo… Fiquei confusa, relevei, e então dispus-me a fazer o que me tinha pedido, por isso, olhei bem fundo nos seus olhos arco-íris, com vontade de ver, crer no que estava a acontecer.

Vi, á minha frente, uma tela e lá passavam, muitas ocasiões da minha vida e em algumas delas, vi que tinha impedido a felicidade de entrar, parecia que me castigava ao querer estar assim, talvez, nem me desse conta disso, mas o que é certo, é que isso aconteceu, e não era necessário que isso tivesse acontecido, se eu estivesse mais alerta. Foi então, que senti um click, e vi seu sorriso largo, ficar ainda mais largo, e nem foi preciso, mais nada, pois recordei as cores da paleta da felicidade. Vi, então, que aquilo que eu pensava ter perdido, afinal continuava ali e sempre esteve a meu lado, sempre quis entrar. Tentou inúmeras vezes, mas eu parecia estar cega, do passado, da cor cinzenta, da tristeza, mágoa e dor. É incrível, como eu às vezes, tenho o triste defeito, de não conseguir ver aquilo que de facto me faz bem, e está em mim. Pareço gostar de sofrer, para depois perceber, nem sei se isto é ingenuidade, se burrice… Abracei-me a ela, com toda a força que tinha, todo meu calor, e agradeci-lhe, pelo que tinha feito, por me abrir os olhos á força e ao abraço … Juntas, num abraço, esvoaçamos e dançamos de alegria, e em grande felicidade … Fez-me prometer-lhe, que iria estar mais atenta, a quando o bem, e o que me faz feliz bate á minha porta, e que deixe o passado, lá atrás, porque já foi, e de nada adianta estar a viver nele, porque já não volta, foi passado, e só tem importância quando eu o trago para o presente e vivo exclusivamente em função dele, ou quando lá volto para resolver, aquilo que ainda, por pouco que seja me afecta. E que a felicidade somos nós que a fazemos diariamente, porque ela vive em nós. E antes de ir, disse-me, como eu era abençoada, pois Deus é que a tinha enviado, pois sempre está comigo, cuidando de mim, mesmo, quando eu faço tudo ao contrário… Quando, dei conta, já estava sozinha, mas sentia-me bem, estava leve, serena e pronta a caminhar, mas desta vez, atenta a tudo que me rodeava … Às pessoas, ao mundo… Estava pronta, para começar a trabalhar mais, em prol da minha felicidade interior… Queria voltar a sorrir, a viver a vida em todos os sentidos!

Grata Te sou Senhor, pelo Teu Amor para comigo e pelo Dom da felicidade na minha vida!...

No colo de Deus ( cont.)

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 31/01/2016
Reeditado em 31/01/2016
Código do texto: T5529527
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