Fumaças do Além.

De longe avistamos a fumaça se espalhando pelos ares. Era tarde da noite, talvez uma e pouco da madrugada. Um vento ameno, pós-chuva, na primeira noite de carnaval no Brasil. Num tempo em que ainda havia carnaval no Brasil.

A estrada, ainda com o mormaço do asfalto quente de dias de estourar miolos, nos esgotara.

Nos deparamos com um lago onde um jirau rústico de fim de mundo nos dava o aconchego de uma deitada e o ouvir do som das águas, o ranger da madeira e a bela paisagem das nuvens se movendo sobre nossas cabeças cansadas. Nos alternávamos em nossas barrigas, ora uma servindo de travesseiro para a cabeça cansada do outro.

Logo adiante aquela fumaça ainda chamava nossa atenção. Corpos alquebrados, direcionamos nossas retinas fatigadas para o outro lado dos morros de areia e vimos que haviam três quiosques, mas o curioso é que em um deles havia tanta fumaça que mal identificamos alguma forma de vida se movimentando em seu interior. A fumaça advinha da churrasqueira, mas não havia carne nem cheiro de fumaça de carne assada, era outro tipo de fumaça, uma fumaça estranha. Fixando ainda mais nossos olhares agora instigados pela curiosidade, até com um certo grau de instinto de ajuda humana, pois de início pensamos se tratar de incêndio.

Que nada, quando pudemos ver melhor o que ocorria, alguns seres disformes dançavam em meio à brancura daquele universo anuviado...

Não havia música, só a dança e a fumaça que exalava da churrasqueira sem carnes... Era tanta fumaça que uma nuvem se formava acima, e por incrível que pareça, a nuvem também dançava com o vento.

O quiosque quase que flutuava. Nossos olhos e nossas mentes não absorveram aquele acontecido. Um peixe saltou ao longe, talvez um daqueles de Hemingway, lutando contra o velho lobo do mar, um pré-histórico de Dickens, Kipling fritando anêmonas mortais no interior de barco nos arredores de Katmandu ou talvez, quem sabe, Jack London sonhando se livrar de um urso faminto numa batalha épica sobre uma pedra de gelo no Alasca. Um com um arpão, a razão, e o outro com garras, dentes, instinto e fome...

Por um tempo dormimos..., até que um pernilongo -cavalo picou meu lombo. Estava sem meus óculos... Por sorte o sol brotava do outro lado das montanhas...

Abrindo os olhos para o lado, notamos não haver mais quiosque... Aquela fumaça toda... Seria uma nave espacial, indagou-me, bocejando, minha amiga de longas caminhadas..

Rimos às gargalhadas e fomos procurar algumas bananas ou goiabas que nos servissem como café da manhã...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 06/02/2016
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