Businho

 
Odiava aquela vida, aquele emprego e principalmente aquele povo. Ir de meia em meia hora ao terminal e voltar no mesmo rastro era serviço de corno. Mas ele odiava especialmente aquele sinal ao lado do Fórum. O bicho ficava uns dez minutos fechado, justo na hora dele passar. Oh, rapaz. Ele tinha muito abuso.
Ficava meia hora estirado na calçada do lava-jato, horroroso, cabeça véa de bater bife, queixo de gaveta, não sabia que por trás os colegas chamavam-no de "Mandíbula".
Quando o fiscal riscava na outra ponta da esquina ele se levantava com um bocejo canino e pegava o ônibus para cumprir o horário dele. Ligava o carro e dava um suspiro se lembrando dos dias de greve que passava em casa, no fofo da preguiça. Estava na hora de ter era outra, o aumento que a empresa dera não tinha dado nem para começar a pagar as contas.
Ô coisa ruim era ser pobre e ainda por cima motorista de ônibus! Se bem que às vezes tinha uns momentos divertidos, por exemplo, deixar os idosos comendo poeira ou virar o rosto quando avistava um cadeirante dando sinal.
Pois não é que deu de aquele ser um momento divertido! O sinal fechou, ele ficou parado quase em frente ao Fórum e abriu as portas para ver a carreira do povo. Os que estavam com pressa correram para subir mas uma negra abusada deu sinal e ficou esperando, mexendo no smartphone, como se ele fosse obrigado a parar nas paradas! Ha ha, daonde, fez que não tinha visto e passou direto. Pelo retrovisor ele viu a sujeita pronunciar um "filho da puta" e ficou com raiva, se pudesse ia lá e quebrava a cara dela. Foi quando o Nokia 1100 dele começou a vibrar. Era a Toinha, sua esposa, perguntando o que ele queria para o jantar. Queria frango, ora mais, pois não tinha comprado de manhã? Aquela cutruvia tinha cada pergunta! Ainda bem que ele saía de meia-noite, não precisava ouvir a voz dela quando chegava em casa. E desligou na cara da pobre.

A Toinha, uma cabocla baixinha e bem-feita, ouviu o tu-tu-tu quando o marido desligou e pegou a banda de frango na geladeira com um muxoxo. No ente um negão a abraçou por trás e deu-lhe um cheiro no cangote:
- Dou o maior valor frango, ó... Vou comer todinho, deixar só os pés e o sibricu pro mói de chifre do teu marido.

E a Toinha deu uma gaitada, se virando para ganhar um beijo na boca.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 03/03/2016
Reeditado em 05/03/2016
Código do texto: T5562587
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