"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 20

Menos de uma hora depois Eliane estava falando com o alemão da fábrica e encantando-o com sua beleza, simpatia e eficiência. O homem quase babava olhando aquela beleza brasileira cheia de charme, produto evidentemente de uma miscigenação maravilhosa, falando com ele sobre as muitas vantagens que seu filtro de ozônio ofereceria aos funcionários, o que faria de bom pela saúde de todos eles. O alemão esqueceu-se de imediato do compromisso que tinha com o vendedor chatinho e sem graça a quem na véspera quase encomendara os cento e cinqüenta filtros. Eliane levantava-se da cadeira, dava a volta por trás da escrivaninha até ficar pertinho do estrangeiro e, debruçando para mostrar itens do pedido, roçava levemente os seios nos ombros do homem cor de talco e cheio de sardas, explicava detalhes técnicos do filtro usando seu tom de voz mais macio, mais sensual, mais delicado. Verdadeira “voz de cama”. O alemão fingia estar indeciso, pensativo, precisando cada vez mais de mais e mais argumentos e Eliane, entrando no jogo dele, fornecia-os sem pressa alguma, até nos mínimos detalhes. O importante no momento eram os efêmeros contatos físicos, plenos de promessas. Fazer com que o sujeito se visse obrigado a ajeita alguma coisa localizada entre suas pernas e abaixo da cintura. De repente Eliane sentou-se novamente na confortável cadeira que lhe fora oferecida na chegada, cruzou novamente as pernas, acompanhando o olhar arregalado do homem, abriu a pasta de contratos e começou a preencher um deles.
- Quantos filtros mando para a fábrica, Herr Hans?
- Han...ah, sim. Acho que nós combinamos cento e cinqüenta filtrros...Serrá o suficiente, acrreditamos...
- Só cento e cinqüenta? O que é isso? Uma fábrica que é uma verdadeira cidade, com milhares e milhares de funcionários, uma das maiores do país, e eu mandar só cento e cinqüenta filtros? Serão apenas para a Presidência e Diretoria, seu Hans? Acho pouco. Muito pouco mesmo. Melhor eu voltar outro dia, quando o senhor pensar melhor, e fecharmos um negócio mais lógico, mais condizente com o tamanho da empresa, o senhor não acha?
- Non, non, non. Non se vá assim tão deprressa. Vamos verrr....quantos filtros você acharrr bom parra o fábrica?
- Não pense, senhor Hans, que quero abusar de sua bondade e paciência comigo. Quero apenas servir bem, já que meu salário é fixo e depois de certo número de pedidos meus ganhos são iguais, mas gosto de trabalhar direito e posso lhe afirmar que um mínimo de duzentos e cinqüenta filtros seria o necessário. O exatamente necessário pelo número de pessoas que circulam aqui.
Ao dizer esta última frase Eliane já estava encostada ao ombro do alemão e seu perfume misturado ao seu cheiro natural o faziam tremer discretamente de desejo. Diabo de morrrena sensual....Hans estava tomando coragem para convidá-la a almoçar com ele antes de fecharem o negócio e ao mesmo tempo tinha medo de ser rechaçado e ainda levar uma bronca feia daquela profissonal competente e decidida. Mas ao mesmo tempo calculava que a moça, sendo inteligente, aceitaria de bom grado seu convite. Intimidava-o a beleza estonteante dela. Era comprador veterano e com muitas outras vendedoras se saíra bem.
Não precisou enunciar seu convite. Eliane abriu seu mais lindo e largo sorriso e, parando com as explicações, voltou a sentar-se dizendo:
- Senhor Hans, se o senhor prometer-me não me levar a mal, não me interpretar de maneira errada, quero fazer um convite ao senhor.
- Convite parra quê, dona Eliane?
- Eliane, senhor Hans, apenas Eliane para os amigos. Já que estamos perto da hora do almoço e aqui em São Bernardo existem tantos restaurantes ótimos, que tal almoçarmos juntos fora da fábrica? Vamos escolher um deles e concluir nossa negociação bem alimentados? O convite é meu.
- Clarro que sim, Eliane. Clarro que sim. Vamos na seu carrro ou na meu?
-Tanto faz, senhor Hans. O importante é que estarei muito bem acompanhada.
Foram no maravilhoso carro novo do alemão que, logicamente, preferia ir dirigindo e ter assim mais controle sobre a situação. No caminho conversaram sobre coisas diversas tais como o Brasil e sua gente, a sensualidade e a beleza da mulher brasileira, a naturalidade com que o europeu, principalmente os alemães, segundo ele, encaravam o assunto sexo e de repente Hans se sentiu corajoso o suficiente para diminuir a velocidade do carro e perguntar:
- Estamos passando em frrrente a uma motel excelente. Posso rrrapitarr essa linda vendedorra parrra lá e assinarr lá a pedido?
Eliane riu gostosamente e fez que sim com a cabeça. Raptada para o motel a pedido dele a possibilidade de aumentar o número de filtros vendidos aumentaria muito. E como...
Quatro ou cinco horas depois do período normal de almoço o alemão estava de volta ao seu escritório. Esgotado, satisfeito, feliz da vida, maravilhado com o que lhe acontecera naquela tarde memorável. Amou mais do que nunca seu emprego, seu cargo, sua posição dentro da fábrica. Aquela tarde, aquela mulher, aquela cama redonda do motel nunca mais sairiam de sua memória. Saíra de lá plenamente convencido de que com os trezentos e cinqüenta filtros encomendados os operários passariam a trabalhar cantando, dançando, assoviando e esbanjando alegria de viver.
Eliane, demonstrando-se acanhada e assustada com tudo aquilo que haviam acabado de praticar, não tendo conseguido resistir ao charme dele, esperava ansiosa o preenchimento do pedido e a emissão do vultoso cheque. No caminho para a fábrica, voltando do motel, explicara ao alemão que não tinha muitos motivos para confiar plenamente na diretoria da Empresa de Filtros. Era ainda muito nova lá, a empresa era também muito nova, enfim, seria mais segura ela levar dois cheques de valores iguais, cada um representando uma metade do total da venda efetuada. Dessa maneira poderia negociar melhor suas comissões. O alemão riu da astúcia da moça, relevou sua contradição quanto afirmativa anterior, a de que ganhava salário fixo, gostou de sabê-la precavida e, contrariando as rígidas normas da empresa, não apenas fez o que ela pediu como também colocou um dos cheques em nome dela.
Despediram-se com singelos beijinhos no rosto, mas Eliane apertou significativamente a mão do alemão como a lembrá-lo do acordo que haviam feito na volta do “almoço”: a cada novo grande comprador que ele lhe apresentasse iriam novamente àquele mesmo maravilhoso motel.

Na Empresa não houve muita dificuldade em negociar com o diretor e ficar com a metade do valor total da venda gigantesca. O checão da fábrica, como todo dinheiro grande, veio na hora mais certa possível e nunca, jamais, em tempo algum havia sido vendida uma quantidade tão grande, de uma só vez, de filtros de ozônio. Nem mesmo equipes inteiras haviam conseguido tal feito. Era simplesmente incrível!! Trezentas e cinqüenta unidades em um só dia de trabalho!!
- Menina, que santo a inspirou a ir exatamente a essa fábrica? O Eduardo vinha trabalhando em um pedido grande de lá há meses. Ia tirar umas cento e cinqüenta unidades e você foi lá e trouxe trezentas e cinqüenta!! Coitado do Eduardo..ele terá um infarto quando souber que você chegou antes e trouxe tudo isso de venda...
- Foi só uma coincidência. Sinto muito pelo Eduardo. Acontece que o homem que decide a compra é uma antigo namorado meu e eu nem havia me lembrado dele. Foi ele quem me telefonou, perguntou o que eu estava fazendo na vida ele me contou que queria comprar muitos filtros para a fábrica.
- O Eduardo vai ter que adiar o casamento, coitado...
- Quem sabe isso não é o melhor para ele?
- O que você disse?
- Nada. Foi só um pensamento bobo que me ocorreu de repente.

- continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 08/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T556613
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