Pobres Vacas.

Cai a chuva pesada e molha a cabeça das vacas nos pastos. Elas se ajuntam em instinto protetor. Apiedo-me ao ver esses pobres animais secularmente abatidos para nossa subsistência ou mero prazer de desossar suas carnes, mastigá-las quase que diariamente, com sabor, sal grosso, cara ou barata, de primeira ou de segunda categoria, a raça humana come individualmente um boi por ano. Já vi um cara comer um boi inteiro em sete dias. Morreu de indigestão. O boi mugia em sua barriga iracunda e faminta. Aquele homem queria comer o Mundo. Era o que supunha. Em alguns lugares comem gatos, cachorros, rãs, pererecas, grilos, baratas fritas ao molho pardo, tudo que é vivo o ser humano quer comer. Eles comem a si mesmos. Sentem muita fome, uma fome incessante.

Enquanto isso uma vaca no pasto sente as gotas da chuva em sua cabeça dura, olha para o céu e chora sem saber que está chorando, ou o que é isso, e suas lágrimas são confundidas e misturadas às águas de março fechando o verão...

No mesmo momento o caminhão do abatedouro abre a porteira de madeira quase decomposta, o velho coça o saco, fuma um pito de palha, chama o ajudante e ambos olham qual a mais gorda...

Nas casas, quase noite, uma mãe frita um bifinho para seu filhinho que espera ansiosamente com garfo e faca nas mãos...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 10/03/2016
Reeditado em 10/03/2016
Código do texto: T5569802
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