"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 21

- Eliane, minha querida, é imprescindível que você nos deixe uma foto sua. Nem que seja uma foto três por quatro. Nós a ampliaremos e deixaremos no “hall da fama” da Empresa como a maior campeã de vendas de todos os tempos. Desde a inauguração até os dias de hoje. Você me trará a foto, querida?
- Claro, claro...É só o tempo de tirá-la e amanhã mesmo estará em suas mãos, seu diretor. Amanhã mesmo a deixarei na secretaria. ( “Vá esperando sentado...”)

Vendo Eliane retirar-se de seu escritório, o diretor suspirou longamente. De uma ex-namorada daquelas compraria até mil filtros, quanto mais trezentos e cinqüenta...Só dependeria da posição em que tivesse que assinar o pedido...

Feliz da vida com o resultado financeiro da primeira venda de grande vulto, Eliane chegou a pensar em dar uma parada por alguns meses. Tinha dinheiro de sobra para viver tranqüilamente por pelo menos um ano caso não esbanjasse muito, mas a promessa de Hans de que a encaminharia a muitos outros grandes compradores a fez desistir logo da idéia. Ajudara-a a combater a preguiça. Não seria nada mau fazer mais algumas vendas tão grandes ou maiores do que aquela, ou pelo menos parecidas. Com uns mil filtros vendidos poderia também trocar de carro e ficar vagabundeando por um bom tempo. Quem sabe até viajar para o exterior se não lhe faltasse a coragem de enfrentar horas e horas de vôo?
Hans foi super eficiente como indicador de clientes. Não apenas forneceu os nomes a Eliane como também telefonou antes aos amigos em postos iguais ao seu e recomendou sua amiga com grande empenho, dando a entender claramente que estava interessadíssimo em que todos fechassem com ela grandes negócios. Eliane chegava às empresas indicadas, era logo atendida pelos amigos e conhecidos de Hans, fechava rapidamente grandes negócios após ligeiras e muito facilitadas explanações técnicas, e a cada venda prometia a si mesmo que deixaria o alemão simplesmente alucinado de prazer ao demonstrar sua gratidão. Gratidão eterna enquanto durasse.
Nenhuma das vendas subseqüentes fora ainda tão grande quanto a feita ao alemão, mas a quantidade, somada, era cada vez mais surpreendente, Nenhum dos pedidos ultrapassando cento e cinqüenta unidades, mas nenhuma inferior a cem, mesmo que a custo de eventuais idas a motéis.
Quando Eliane já acreditava que jamais ultrapassaria seu próprio recorde, aconteceu. Aconteceu de falar com a pessoa certa, na empresa certa, na hora certa e ela saiu de lá com um pedido de quatrocentos e cinqüenta unidades vendidas a um preço especialíssimo.! Um preço especialíssimo que ela mesma se encarregara de aumentar muito para depois oferecer um desconto tentador.
Deste pedido, monumental em relação ao movimento total da Empresa, Eliane resolveu que quereria sessenta por cento de comissão e, para desespero total do diretor, não arredou pé de sua decisão chegando mesmo a ameaçar o cancelamento do pedido e sua transferência para a concorrência.
- Assim não dá, Eliane!! Assim não dá! Daqui a pouco você estará exigindo cem por cento e prêmios por venda ainda por cima. Ganância tem limite, moça. Ganância tem limite...
- Você tem um minuto para decidir, diretor. Um minuto e nada mais.
Fecharam em cinqüenta e cinco por cento e no dia seguinte Eliane voltou à Empresa de Filtros com dinheiro vivo e o grande, imenso, pedido assinado.
- Porquê você não trouxe em cheque, Eliane?
- Simplesmente porque o cheque da montadora saiu em nome de minha empresa. Estou repassando para vocês o valor do pedido já descontada minha modesta comissão.
- Que empresa sua? Que novidade é esta?
- É isso aí, Didi. Abri uma empresa de representações e consegui o cheque em nome dela. Estou apenas me prevenindo contra eventuais calotes.
O diretor engoliu em seco. Na verdade lhe passara pela cabeça que a grande montadora jamais optaria por pagar de outra forma que não um cheque normal nominal à sua empresa legalmente constituída e bem conceituada, e mesmo assim somente após a entrega e conferência do pedido, além das subseqüentes instalações dos mesmos. Tendo em mãos o cheque da montadora, ele poderia postergar o pagamento à vendedora, deixá-la entrar na justiça do trabalho e só mais tarde, muito mais tarde e a muito custo, entrariam as duas partes em um acordo que dificilmente seria prejudicial à Empresa de Filtros. Afinal de contas o contrato de trabalho que as duas partes haviam assinado mencionava um máximo de comissão de trinta por cento sobre as vendas efetuadas e mesmo assim após a ultrapassagem de um determinado número de pedidos. A diaba da mulher já levara quarenta e cinco por cento na primeira venda e agora levava cinqüenta e cinco por cento nesta última! Era demais! E já estava toda cheia de intimidades chamando-o de Didi, abreviando o nome de seu cargo...

Quando as indicações de Hans terminaram, quando ele já não tinha mais ninguém a quem encaminhar Eliane, ela parou com os filtros. Parou com os filtros, parou com as idas aos motéis e parou de vez com o alemão, a quem não tolerava fisicamente e cujo sotaque a irritava profundamente. Em poucos meses ganhara o suficiente para comprar um bom apartamento, trocar de carro e deixar um bom dinheiro guardadinho na poupança que escolhera, que seria sempre a compra de ouro e dólares.
Agora sim, descansaria sossegada, curtindo o ócio e o prazer de só fazer o que lhe agradasse.
Sentia-se até um tanto quanto aborrecida ao lembrar-se que lhe faltara adrenalina nas vendas dos filtros. Tudo lhe fora tão fácil que nem uma única vez precisara recorrer aos seus métodos escusos e complicados que tanto prazer e dinheiro lhe davam. Trabalhara honestamente demais e sentia-se frustrada, como se devesse algo a si mesma e aos seus queridos compradores de filtros das grandes empresas.
Em sua última visita à Empresa de Filtros, Eliane encontrara Eduardo entrando no prédio de mãos dadas com a noiva e colega de trabalho, a magrelinha linguaruda. Não resistiu à tentação:
- Andei observando vocês dois, Eduardo. Acho tão lindo um casalzinho trabalhando unido...Você, Eduardo, está de parabéns. Com tal esposinha você irá longe, meu querido.
- Obrigado, Eliane. Tenho certeza de que encontrei a companheira ideal. Mas, aproveitando a oportunidade, quero lhe dizer que não guardo rancor com relação àquele negócio da venda grande que você fez onde eu ia fechar o negócio. Eu sei que foi apenas coincidência, como o diretor me explicou.
- Foi sim, Eduardo. Foi apenas uma coincidência chata pra você. Infeliz mesmo pra você. Mas não há de ser nada. Você ainda é muito jovem, muito competente e trabalhador e oportunidades não lhe faltarão. Logo lhe surgirá nova oportunidade igual ou até melhor. Tenha certeza disso. Adeus e felicidades para os dois.
- Adeus, Yolanda, e parabéns pelo seu sucesso. Você merece. Continue assim.
Eliane foi embora rindo, mas com grande vontade de chamar o rapaz de lado e contar que fora sua linguaruda namorada que o pusera a perder no negócio. Com uma mulherzinha indiscreta como aquela ele passaria por sérios problemas na vida, com certeza.
De repente, num forte impulso a que não quis resistir, Eliane voltou à entrada do prédio, deu uma ligeira corrida e chamou por Eduardo, que já fazia menção de entrar no elevador.
- Eduardo, tome aqui esse cartão, meu querido. Vá até essa pessoa e feche um grande negócio. Já está tudo encaminhado, pronto e mastigado. Basta você chegar lá, dizer que eu lhe pedi que me substituísse, diga que fiquei doente, e você voltará com um grande pedido. Mas, escute bem o que vou lhe dizer: mantenha em segredo. Segredo total. Preste muita atenção mesmo: não diga uma palavra sobre isso à sua noiva, Principalmente à sua noiva. Entendeu? Principalmente à sua noiva. Agora, adeus mesmo, que eu tenho que correr pra casa.
- Mas porquê isso, Yolanda? Porquê dar-me uma venda grande assim, pronta, sem mais nem menos?
- Já ganhei muito, meu amigo. Muito mais do que precisava e já estou farta de falar em filtros. Pendurei as chuteiras no assunto e seria uma pena perder essa venda. É sua. Presente meu. Tchau.

= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 09/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T557702
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