Uma foto da incompetência gerencial

Eram dez horas da manhã de uma quarta–feira do dia vinte e quatro de abril de mil novecentos e noventa e dois. Havia um zunzum nas salas e corredores da empresa, onde se falava sobre os cortes de pessoal definidos pelos gerentes que estavam a empreender o downsizing famigerado naquelas linhas demarcadoras da petroquímica gigantesca, seguindo a receita rígida e milagrenta sugerida e recomendada por tantos economistas estúpidos quanto foram os chefetes incompetentes a adotá–la no exemplo repetido que se deu em tantas e muitas outras empresas ditas já enxugadas (na maioria delas foram pais ou seres humanos demitidos, que suportavam outras vidas, num perverso processo que muitas vezes impactou a sociedade ao levar a desgraça a famílias tantas que daquelas vítimas dependiam materialmente!) que sofreram deste modismo abominável, desumano e anti–social, vigente no início da década de noventa. Mais uma vez, copiou–se o modelo alheio para teste de uma eficácia suposta, pouco provável e com custos diversos e elevadíssimos, todos decorrentes da mesma. Fora inicialmente um flash caído sem muito aprofundamento para os nativos desta terra (e de consequências pouco conhecidas para a sociedade vitimada que servira de mera cobaia naquele experimento empresarial!), cujo único objetivo estivera centrado na maximização da mais–valia já muito praticada então e que perfaz a verdade maior de tudo que se praticou, simplesmente! Foram e continuam sendo, por conseguinte, muitos os caminhos que levam à prática da concentração de renda para os empresários – os (des)humanos que vivem e se deliciam do lucro alto e sempre, sempre crescente!

A carta de demissão desgraçada acabara de chegar às mãos do engenheiro Dermann, que pela primeira vez em sua vida se deparava com tal experiência fria e horripilante. Então, mais de quinze anos de seus serviços prestados acabavam de se transformar em pó e estavam sendo ignorados e/ou negligenciados por uma empresa séria que errava por crer e acatar a decisão de um gerente muito ruim, de nome Maleus. Constituía–se, para o demitido Dermann, uma perda material impossível de ser quantificada sob todos os aspectos imagináveis e que repercutiria para sempre no resta da vida daquele engenheiro comportado e sério, como também sobre seus dependentes diretos, fato que certamente haveria de ressaltar mais e mais ao se caminhar no rumo do futuro: efeito versus causa tem sempre um dead time! Qual o preço para se recompensar tal malefício praticado sobre um cidadão honesto? Quem é de fato o devedor verdadeiro, o chefe ou a empresa? São interrogações que a História certamente responderá e que a Lei da Compensação Universal haverá deterministicamente de cobrir em todas as suas nuances possíveis... Tem–se aí muita complexidade!

Sem saber o que dizer, mas com controle perfeito de suas ações, Dermann imediatamente procurara por seu chefe imediato para ter esclarecimentos maiores, apesar de saber que o dito cujo se tratava de um canalha de covardia ímpar, que sequer tivera a hombridade de comunicar ao subordinado a sua demissão arbitrariamente imposta. Aquele indivíduo bem já refletia seu comportamento previsível revelado até no convívio com sua própria família, que viria depois a demiti–lo do seu seio, a qual se mudaria de Salvador para Santos, num futuro bem próximo àquele momento deplorável. Assim, necas de pitibiriba! Em bom baianês significando que aquele horrendo chefe estava sumido, frustrando a curiosidade do engenheiro prejudicado com sua ação atabalhoada e falha e nunca sua decisão errada, posto que gerente nunca fora de fato e, assim, decisão alguma poderia ter tomado! Na linguagem competente do Dr. Vicente Falconni, um gerente sem qualidade, que nunca decide e que não soluciona problemas é, por conseguinte, ineficaz para toda e qualquer empresa séria! Sem dúvida, eram evidentes as desavenças entre aquele chefe e seu subordinado apunhalado pelas costas, agredido e demitido. Todos os companheiros de Dermann sabiam perfeitamente da postura do chefe desacreditado e desmoralizado, na ocasião sempre fora muito badalado, falado e comentado pejorativamente por todos (sempre que o desgraçado estava ausente!). Ingenuamente, Dermann somente punha suas opiniões contrárias aos interesses escusos do chefe na frente do corrupto e com a presença visual e auditiva de todos os integrantes do órgão. Daqueles amigos que se houveram presentes em cenas por muitas vezes repetidas e vividas e partilhadas por todos, somente alguns eram de fato e verdadeiramente amigos, conforme aquela situação viria a revelar para Dermann e muitos de seus amigos leais daquela mega fábrica algum tempo depois daqueles instantes derradeiros. Uma pena!

Tenso com aquela palhaçada, Dermann partira apressado para conversar com o chefe de seu chefe, o engenheiro Feadp, onde completou sua decepção: tratava–se de um técnico operador com limitações gerenciais quando em exercício de função de mando, o qual só enxergava a empresa como uma verdade absoluta e indiscutível, talvez por algum tipo de medo!... Daquele indivíduo ouvira palavras de que pouco Dermann havia mostrado naquela divisão posta em frangalhos por Maleus, sem ao menos saber dos trabalhos reais desenvolvidos pelo engenheiro sério. Também, ficara óbvio para Dermann que Feadp somente manipulava informações mentirosas provavelmente fornecidas pelo ora chefete desaparecido Maleus. Ignorara e não sabia sequer que Dermann já havia ganho elogios de pessoal da empresa (e por escrito!), mesmo nunca tendo sido indicado para participar do encontro promocional do mês com a direção da empresa, devidamente ridicularizado pelos funcionários pelo título de 'almoço com as estrelas' (o que não era surpresa alguma para um técnico escolhido para ser desligado por quem o deveria ter um dia indicado para tal evento ao longo de vários anos de labuta!), que jamais convidava os tecnicamente mais competentes, mas apenas quem era seu puxa–saco. Realmente, estampara–se ali para a vítima em situação ridícula apenas a função de receber a carta banal de demitido pelo gerente alienado em contato, quando a vítima assinara a carta pré–elaborada pela empresa e que expressava tão somente o conhecimento do fato de rompimento do contrato de trabalho frágil e umas outras poucas besteirinhas mais, que naturalmente visavam dar legalidade àquele ato feio exercido pelo patrão por recomendação do chefe acovardado Maleus, seguramente o único desaparecido ou escondido em algum buraco dentro da empresa durante toda aquela manhã.

Como prova das verdades postas neste conto, tem–se que aquele chefete acabara por ser banido daquela empresa séria. Seus protegidos e sempre agraciados com promoções e referências boas passadas por Maleus a outrem (nem sempre verdadeiras para com diretores e chefes maiores de outras áreas da empresa!) precisaram demonstrar a competência alardeada que nunca possuíram e, dentre os formadores daquele team de técnicos, alguns acabaram por deixar a empresa que fora ludibriada pelo gerente falacioso que os suportou em favor de interesses que se supõem terem sido de caráter estritamente pessoal. Tais fatos pertencem hoje ao domínio da História imparcial e esclarecedora que deverá denunciá–los aos filhos e netos daqueles atores envolvidos no porvir, certamente.

Correram boatos na boca miúda de que o chefe de Dermann sumira naquele vinte e quatro de abril porque acreditava que levaria umas porradas do engenheiro pacato (que até teriam sido muito merecidas como lição para que nunca mais voltasse a brincar com e/ou a prejudicar a vida de outrem!).

Ficara patente para o engenheiro Dermann o ganho de uma rica experiência gerencial que o ensinara muito do que o gerente nunca deve praticar! Infelizmente, sua experiência das cousas boas que devem ser exercitadas fora muito rala e diminuta naquela área específica e fechada de Automação Industrial.

Dermann se recolocou no mercado de trabalho em espaço de tempo curtíssimo, inclusive com melhor posição e mais salário, também.

Do fato real a que fora exposto, Dermann levara a lembrança inapagável do caos dentro do quadro de perturbações instaladas no interior da vida de uma mega empresa, onde seus gerentes imediatos sequer souberam demiti–lo porque não eram de fato gerentes! Como algo de bom sobre uma situação intempestiva de decisões errôneas inúmeras, eclodiu e explodiu com nitidez a revelação de que nem todo demitido de uma grande empresa é incompetente, por certo. Por outro lado e em complementação ao já escrito, nenhum fraco gerente consegue enganar todos os comandados e superiores o tempo todo, sempre ruindo com o desmoronar de suas falácias e/ou suas práticas gerenciais frequentemente equivocadas e/ou reveladas na fraqueza técnico–gerencial de suas colocações, geralmente comparadas e compensadas na podridão do caráter que revelam ter ao mundo que os espia e os pune sempre, inapelavelmente. É uma questão de tempo e, neste caminho, simplesmente, depuram–se inexoravelmente todas as ações de mando gerencial para uma melhor, como se diz modernamente. Graças a Deus!

Igualmente repugnável, sob a ótica do demitido vulnerável, fora o imediato afastamento que seus até então amigos supostamente verdadeiros e em posições de mando terem se distanciado dele e/ou do seu contato enquanto estivera frequentando os ambientes daquela empresa, como que para se manterem ou se garantirem em seus postos elevados e bem agarrados de gerentes autodeclaradamente competentes, de salários papudos e gordos (para o que se faz necessário apenas dar uma olhada em seus currículos acadêmicos e nos conceitos que seus comandados lhes têm atribuído ao longo dos anos!), não podendo ser contaminados por mal algum ou doença emanada e/ou transmitida pelo engenheiro em retirada. Dermann acreditara mesmo que sequer queriam ser vistos pelos diretores, bem como, por gerentes outros e quando muito próximos e/ou em companhia do demitido ou em qualquer contato com o recém–expulso do quadro funcional. Para entender a veracidade desta observação que indubitavelmente existira, faz–se necessário saber onde teriam deixado seus passados, principalmente quando ainda não eram chefes...

Para os injustiçados e/ou demitidos de forma errada, injusta, imoral e incompetente, somente a perda material consequente, decorrente e irreparável sobre suas vidas presentes e os futuros de seus dependentes diretos vulneráveis. Eis aí um fato inquestionável, que não deveria fazer muito bem a quem praticou tais erros desmedidos e perversos enquanto gerente, se tivesse, pelo menos, um pouquinho de consciência em sua insensatez costumeira e danosa! Infelizmente, os acometidos da perda de caráter ou com desvio de conduta nada sentem dos malefícios ou agressões absurdas que frequentemente cometem ou cometeram contra seres humanos, como ainda hoje podem são descobertos e presos nazistas convivendo harmoniosamente com pessoas normais, como se o passado deles apagado estivesse. Por isso mesmo, tais criaturas animalescas e doentes não podem ser consideradas seres humanos e suas vidas pouco devem valer, por certo.

Salvador, 2006.

Conto publicado na obra do autor A caçada matinal e outros contos (2006, p. 189-195).

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 18/03/2016
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