"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 24

"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 24

- No carro eu te mostro onde está minha arma, moça bonita. Tu vais gostar de ver o tamanho do trabuco.
Eliane sentiu um frio na espinha. Havia se arriscado muito mais do que imaginara.
Ao saírem do “Frango Assado” um maravilhosa “blazer” importada estacionou ao lado do carro que Eliane usava. O bandido olhou o maravilhoso veículo e disse, sonhador:
- Logo eu vou ter uma dessas...E não vai demorar muito...
Eliane sorriu-lhe e disse que torcia para que isso lhe acontecesse logo. Gostara muito de haver conhecido um homem tão forte, valente e decidido, com aquele jeitão de homem honesto. Fora Deus que o colocara em seu caminho.
O homem não sorriu abertamente, mas seus olhos se apertaram em uma expressão irônica enquanto ele dizia baixo:
- Pode ter certeza que sim, morena.
Depois baixou o calção até o meio das pernas e mostrou a Eliane a arma presa à sua coxa por uma larga tira preta de borracha.
- Tá vendo, moça? Na volta a sua segurança estará bem garantida.
- Você é da polícia!? Meu Deus! Que sorte a minha!
- Policial? Deus que me livre, mulher...Digamos que eu faço mesmo é uns trabalhinhos autônomos. De segurança. De segurança...
Eliane falou sem parar por todo o trajeto, apavorada com a possibilidade de o ladrão pé-de-chinelo resolver contentar-se com o carro da locadora e com o pouco dinheiro que ela levava na bolsa. Falou muito da fortuna que teria que transportar na volta e a imensa preocupação que isso lhe causava. Falou da bandidagem em São Paulo, da violência absurda contra mulheres sozinhas, na falta de sossego das pessoas decentes e nos sustos que alguns amigos seus haviam passado, no quanto isso a apavorava, e o sujeito apenas ouvia, calado, imerso em seus próprios pensamentos.
O bandido pensava nos detalhes do seqüestro de Eliane e calculava o quanto poderia pedir de resgate ao pai da grãfina. Tão certo estava de que tudo daria certo que já imaginava em que e em quanto gastaria na realização de seus sonhos de consumo. Seria uma maravilha passar um bom tempo traçando aquela belezura enquanto a família se virasse para pagar o gigantesco resgate que exigiria em notas miúdas. A muito custo manteve a boca fechada e a expressão inalterada até chegarem à portaria da agência centro do Banco do Brasil, em Santos.
Eliane desceu do carro, esperou que ele chegasse perto dela e juntos entraram na agência bancária.
Carlos Beluzzi e mais quatro policiais aproximaram-se por trás e colocaram as armas na cabeça do bandido.
- Carlinhos, meu amor! Que prazer revê-lo! Esse é o tal assassino que atirou na cabeça de um colega meu de trabalho. Ontem ele atirou friamente na cabeça do meu querido amigo Romero, que agora corre o risco de ficar paraplégico para sempre. Eu o encontrei na estrada e lhe dei uma carona até aqui.
O sujeito tentava escapar das mãos dos policiais e gritava a plenos pulmões que ela era louca, que estava inventando aquilo, que nunca atirara em ninguém em toda sua vida, e tudo mais que pôde dizer até que o calassem com uma boa coronhada na cabeça.
- Cale a boca, seu corno. Aqui não é lugar de escândalos.
- A arma está escondida na coxa dele, meu bem. Deve ser a mesma que ele usou para atirar no meu amigo quando a gente voltava de uma venda que fizemos em São Bernardo. Eu parei no posto para ir ao banheiro e na volta vi esse vagabundo enfiando a arma dentro do carro e atirando na cabeça do meu amigo que eu te contei, aquele que é muito engraçado e muito boa pessoa.
Carlos Beluzzi olhou para a cara do bandido e riu alto:
- Que azar o seu, meu chapa! Atirar logo no amigo de minha morena mais linda e mais querida...Mexeu com ela, corno, mexeu comigo. Bem, pessoal, agora vamos andando que temos muito que rodar ainda. Nossa “delegacia” especial é longe, bem longe daqui.
Ao perceber o tom do coronel o bandido pareceu branquear de medo.

Eliane e Carlos embarcaram no carro alugado por ela e acompanharam o camburão que levava o preso. Carlos ia ao volante e Eliane contou em detalhes o que acontecera, o quanto sofrera com o susto e com o risco de morte do amigo, da tristeza imensa da família Romero e a dela mesmo pela amizade que a ele dedicava, omintindo, é claro, a ida ao motel e as muitas juras de amor com a vítima trocadas. Com a mão esquerda carinhosamente enfiada entre as pernas do coronel, perguntou dengosa:
- Você jura que fará com que ele sofra bastante, meu amor?
- Juro, minha querida. Estou pensando até na tortura máxima: prendê-lo bem e passar uma pena nos pés dele até que morra de tanto rir das cócegas. Quando pensar que ficará livre, eu pegarei um chinelo e esquentarei a bunda dele umas cem vezes. E depois ele terá que escrever quinhentas vezes a frase “tenho que ser bonzinho e não matar mais pessoas”. Acho que chega, não é?
- Exagerado demais. Seja mais brando, amor.
- Está bem, minha querida. Não passarei dos limites.
Quase uma hora depois o camburão parou no meio de um imenso matagal, no final de uma trilha quase inexistente e cheia de pedras e buracos, e o bandido foi levado para uma casa pequena, em ruínas. Carlos fez menção de sair do carro, mas Eliane segurou-o pelas roupas.
- Amor, diga aos homens para esperarem por você. Quero lhe pedir um favor.
Carlos deu um curto assobio, fez um gesto para os policiais e voltou a sentar-se no carro.
- Diga, meu anjo. O que você quer?
- Quero que façam tudo que puderem com o homem, menos matá-lo.
- O que é isso, morena? Acha que esse sujeito merece sua caridade?
- Aí é que está, meu querido. Caridade seria matá-lo. A morte, mesmo tortura, seria para ele uma pena leve. Duro mesmo seria continuar vivendo cego, surdo, mudo, em uma cadeira de rodas e dependendo da caridade alheia, de preferência paraplégico. Entendeu, meu homem gostoso demais?
- Mensagem recebida, tesão de minha vida, e ordem cumprida.
Muito tempo depois o camburão saía dali em alta velocidade a caminho de um hospital. A morena do coronel não queria que ele morresse. Moça boa estava ali.

Naquela noite Carlos Beluzzi entrou em sua casa um tanto quanto a contragosto. Animava-o apenas o fato de ali reencontrar suas duas filhas, seus dois grandes amores na vida, os colírios de seus olhos. Aborrecia-o, e muito, pensar que sua esposa também se encontrava ali e ele logo a veria, por mais que evitasse. Bateu a porta com força ao pensar nela e subiu para o seu quarto pisando duro escada acima. Estranhou o silêncio na casa, mas nada pressentiu de anormal. No quarto tirou rapidamente a roupa e dirigia-se ao banheiro quando ouviu uma voz estranha:
- Quietinho aí, meu tio. Isso é um assalto e se quiser ficar vivo levante as mãos bem devagar.
Constrangido por estar nu, e cheio de raiva por não ter a mínima possibilidade de reagir no momento, Beluzzi virou-se um tanto quanto lentamente. Sentiu-se aliviado ao perceber que não se tratava de um rapazinho, de um nervoso principiante no crime. Jovem armado e assaltando é muito mais perigoso, imprevisível e cruel que um adulto cometendo o mesmo tipo de crime.

= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 13/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T564227
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