As Desventuras de Dona Neosaldina.

Dona Neosaldina passou a infância toda tomando gardenal ministrado pelo Dr. Raticida. Aos onze anos fugiu de bicicleta com seu namorado Big Pig para o fundo do quintal do Sr. Albano a fim de brincarem de Barbie e Ken. Ao ver a mãe de Neosaldina se aproximando com um pedaço de pau, cada qual, feito frangos tontos, saíram em disparada montados em seus desesperos e guiando suas bicicletas em ziguezague sobre o terreiro e desviando das árvores. Neosaldina, inexperiente na arte de pilotar, atordoada, não viu um pé de goiaba e se enfiou. Ali, segundo o diagnóstico do ginecologista, perdeu a virgindade, não devido a uma suposta relação intrafemural com Ken, mas por um galho da goiabeira mal intencionado.

Ridícula e ao mesmo tempo ridica, Neosaldina queria a torto e a direito ser uma mulher rica. Sonhava com carros, colares, botas de couro e status. Tomou um rumo e virou paty. Fazia biquinho para as fotos e usava calça com enchimento na poupança. Por mais que tentasse, havia uma feiura em sua alma, seus olhos eram opacos como o de bonecas baratas e sua insensatez a tornava inconveniente. Namorou Zentel, Valium, Triptanol, Dorflex, Thilenol, Eno e até o pobre do Cebion, com quem se casou e logo se divorciou, quando conheceu Ansiolitico de Tarja Preta, meio homem, meio besta. Abriram uma farmácia e viveram felizes para sempre, comprimidos em cápsulas de felicidade artificial. Frequentavam a sociedade dos cérebros derretidos e sonhavam monopolizar o mercado de antidepressivos. Mas como o para sempre sempre acaba, hoje, com aproximadamente setenta e dois anos, dona Neosaldina é uma rica olímpica e vazia, dormindo agarrada a um galho de goiabeira, já que Ansiolitico de Tarja Preta a deixara para se casar com Aspirina, mocinha meiga e cristalina.

Toda noite, ouvindo a banda de forró Rivotril e vendo o mundo passar pela janela de seu quarto, dona Neosaldina sonha encontrar um medicamento forte e garboso que a complete, enquanto lá fora chove ácido lisergico.

SAvok OnAitsirk (Alucinações Burocráticas - As Desventuras de Dona Neosaldina).

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 22/05/2016
Código do texto: T5643275
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