Noite Estranha

Acordei cedo, muito cedo. Bem mais do que estava acostumado a acordar. Duas horas da manhã e não conseguia fechar meus olhos e ter um bom sono. Decidi levantar e assistir televisão na sala.

Levantei da cama, me espreguicei. Fazia tempo que não tinha me espreguiçado daquele jeito. Estava aliviado, como se um peso enorme, um monstro dentro de mim, tivesse saído.

"Porque na sala?", pensei comigo mesmo. Sem resposta, fui direto sem pensar na televisão que tinha no quarto.

- Deve ser o sono... Eita! lá vou eu conversar sozinho de novo.

Pego o controle, ligo a TV. Me assusto com uma figura do outro lado da sala, parada e olhando para o escuro.

- Quem é você?

Sem respostas...

- Quem é você? Por que tá na minha casa esse horário? Duas horas da manhã! Só gente doida acorda nesse horário.

- Sarcástico como sempre...

Me espantei mais ainda. Sim, sarcástico sempre fui, mas quem sabia disso? Meus amigos estavam viajando. Era final de ano e todos foram visitar suas famílias. E eu estava sozinho em minha casa.

- Eu te conheço?

Nada de resposta, apenas uma risada que ecoava na minha cabeça.

- Você não é de falar muito, né?

- Só falo quando preciso - aquela voz não me era estranha.

Sentei do outro lado da sala, para poder vê-lo de longe, gosto de fazer isso com as pessoas, me dá uma visão melhoor de como elas são. Mas ao mesmo tempo que via a imagem na mniha frente, me perguntava por que da TV não passar nenhum canal...

- Então, gosta de piadas? Era uma vez um hospício...

- Cala-te a boca! Você não se cansa dessas piadas ridículas?! Já basta seus amigos rindo alto e falando coisas insuportáveis. Não vou mais ouvir tal baboseira, ainda mais vinda de seus lábios!

- Uau, você fala bem.

- Falo conforme me foi ensinado.

Por mais que a luz chegasse aonde ele estava, permanecia escuro, não podia ver seu rosto, nem forçando minha vista. Era como se a escuridão o envolvesse e o protegesse.

- Afinal, quem é você?!

- Realmente não sabe quem eu sou. É uma pena, está mais fraco do que esperava te encontrar...

- Mais fraco? To boiando.

- É uma pena, realmente. Terá de crescer a força mesmo.

- Dá pra falar comigo, pelo menos uma vez?

- Sempre falei com você, mas você quase nunca me ouve. Rapaz imaturo...

- Hã?

- Não reconhece minha voz?

- Não me parece entranha. Mas não sei quem é...

O homem foi em minha direção. Eu não conseguia me mexer por algum motivo. Algo me prendia.

Dois olhos brancos me fitaram. A imagem enfiou sua mão em meu estômago, nunca senti tamanha dor. Antes de desmaiar, a última coisa que ouvi:

- Meu jovem rapaz. Eu sou você...