"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 26

- O tal assaltante era muito atrevido. Não é que o desgraçado sabia muito bem que eu sou coronel da Polícia Militar? Não estava nem aí para isso. Qualquer bandido sabe que não se deve folgar com quem está encarregado de caçá-los. Bem, se bem que hoje em dia estão assaltando até delegacias para roubar de delegados e investigadores. A bandidagem está cada vez mais ousada e atrevida.
- Vai ver era desespero para comprar droga. Sabe o quanto esses viciados ficam desesperados quando ela falta.
- É...pode ser isso mesmo. O filho da puta pode ter entrado na primeira casa em que encontrou moleza e só lá dentro ter ficado sabendo que era a casa de um coronel, mas aí já era tarde pra ele. Já havia começado o assalto e quis ir até o fim. Eu estava pelado, indo para o banheiro, e pensando em você. Quando o cara me algemou e empurrou para o tal quartinho, ainda passei pelo constrangimento de chegar perto de minhas filha nu, o que teria pouca importância, mas acontece que eu estava excitado, pensando em você, e o negócio custou a baixar...
Eliane teve vontade de rir, mas conteve-se. O clima não estava para brincadeiras.
- Se bem que as meninas estavam acostumadas a me ver à vontade pela casa quando as empregadas já estavam em seus quartos, lá nos fundos do quintal. E eu também a vê-las à vontade pela casa ou no banheiro. Quanto a isto nunca tivemos muitas frescuras, nem eu nem a Hilda, nem as meninas.
- Como é que você conseguiu sair do tal quartinho? Alguém foi lá desamarrar vocês?
- Não. O cara só algemou a mim. As meninas e as empregadas foram amarradas com cordinhas de varal. Eu consegui desamarrar minha filha mais velha, que chamou a polícia. Tive que esperar até o pessoal chegar para que abrissem as algemas, mas aí já estava pelo menos meio vestido. Minha filha vestiu-me as calças.
- E o homem, pelo jeito, foi morto na mesma noite do assalto. Estranho, não? Será que tentou assaltar mais alguém e a pessoa reagiu e ele levou a pior?
- Não tenho a mínima idéia, mas posso te garantir que não fiquei nem um pouco chateado. Ou melhor, fiquei um pouco sim. Eu gostaria muito que ele caísse em minhas mãos por algumas horas. Como gostaria....Só de me lembrar que ele tirou as roupas de minhas filhas...
- Ainda bem que só as deixou nuas. Já pensou se as tivesse estuprado? Aí sim, você explodiria de ódio, posso imaginar.
- Bem, realmente...dos males o menor...
- Olha, meu coronelzinho, quero lhe comunicar que resolvi entrar em férias e dedicar todo meu tempo a você. Pode vir quando quiser, na hora que sentir vontade, no momento em que se lembrar de mim, e sempre me encontrará à sua espera. A menos que eu tenha saído para comprar coisas gostosas para agradar ao meu amor. Durante um mês, pelo menos por um mês, não quero nem ouvir falar em contratos, pedidos, vendas, clientes, diretoria, gerência, nada, enfim, que me lembre trabalho. Viverei apenas, única e exclusivamente para o meu coronel, o dono do meu coração. Gostou da notícia?
-E como!! Só não sei ainda se você voltará um dia a ser vendedora...
-Porquê? Está pensando em me aposentar compulsoriamente?
-Deixe passar mais um tempo da morte de Hilda e voltaremos ao assunto. Agora pula nessa cama que eu estou ficando doidão de novo.

Naquela tarde Eliane aproveitou a oportunidade para contar a Beluzzi, com todos os detalhes necessários, o drama que acontecera em sua vida e que quase a desgraçara por completo levando-a, de forma injusta e sem retorno, ao mundo nojento do crime. Muito jovem ainda, envolvera-se com o pai de seu filho e sentia-se a mais feliz das mulheres. Ele era um rapaz bonito, inteligente, educadíssimo, e com uma cultura geral que muito a impressionou. Estava apaixonada e entregou-se a ele muito antes que pudessem pensar em um envolvimento mais sério ou em casamento. A falta de dinheiro era o problema que enfrentavam enquanto a barriga dela crescia dia a dia e ficava cada vez mais difícil escondê-la do mundo. Um dia ele comunicou, feliz da vida, que havia conseguido um ótimo emprego. Um trabalho fixo que lhe renderia sempre muito dinheiro. O único inconveniente é que o tal emprego era aqui em Santos e eles ainda moravam em São Paulo. Combinaram então que ele moraria em Santos sozinho até que a situação se estabilizasse e ela viria quando tudo entrasse na rotina e ele se sentisse firme no serviço e pudesse cuidar dela e do filho que logo teriam. Combinaram que ele iria vê-la pelo menos duas vezes por semana, na pior das hipóteses e quando pudessem oficializariam a união. Eram muito jovens ainda. Eliane, até então, só via motivos para comemorar. Eram jovens, saudáveis, amavam-se de verdade e a criança desenvolvia-se normalmente em seu útero. Quando a criança nasceu o namorado fora a São Paulo buscá-la. Já havia montado um pequeno mas confortável apartamento para a pequena família que se formava e estava indo muito bem em seu trabalho. Queria-a logo com ele por não agüentar a vida solitária, longe de seu amor.
Mesmo tendo que brigar muito com seus severos pais, que não confiavam inteiramente no tal rapaz, Eliane seguiu-o e passou a morar com ele. Algum tempo depois ela se maldisse por não ter dado ouvido aos pais. Acabara descobrindo que se unira a um bandido, com um ladrão ordinário que gostava de atuar nos fins-de-semana em Santos e adjacências. Levou, depois da descoberta, muito tempo pra livrar-se dele de vez. E só o conseguira porquê o idiota assaltara uma padaria quase falida e ainda acabara preso em flagrante. Depois de algum tempo mataram-no em uma briga na cadeia.
- Em que cadeia, meu amor?
- Na penitenciária da Praia Grande.
- Qual era o nome dele?
- Já te conto, mas posso te dizer que parece que a função dele na vida era me infernizar, querer envolver-me em suas falcatruas indecentes, acabar com minha vida em termos de respeitabilidade, enfim, tornar-me uma ordinária igualzinha a ele. Acho que se não tivesse morrido seria capaz de desencaminhar até o próprio filho, meu querido filhinho que em nada se parece com o pai. Há uns três meses atrás o mataram na cadeia e te confesso que senti um verdadeiro alívio. Tinha pavor de que ele quisesse aproximar-se de mim e de meu filhinho. Você já ouviu falar no Waldemar do Sindicato?
- E quem é que na Polícia nunca ouviu falar desse ordinário? Engraçado...há algum tempo atrás tive que dar um bom corretivo em um rapazinho que me disseram ser filho dele. É o seu filho?
- Deus que me livre e guarde de tal peça!! É um dos muitos filhos dele espalhados por aí. Algum desgraçadinho que teve com uma outra mulher qualquer. Vivia envolvendo-se com vagabundas de todos os tipos. A única mulher decente com quem se envolveu foi comigo. E você nem pode imaginar as marcas que me deixou, amor.

= Continua amanhã.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 17/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T568334
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