"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 27

-Então esse ladrãozinho safado que eu peguei no ônibus e enchi de porradas era filho dele com outra mulher? Ainda bem. Seria uma situação chatíssima se fosse seu filho. Eu e alguns soldados demos um corretivo pesado nele...
-Deus que me livre e guarde. Esse ordinário mirim andou procurando por nós, querendo agregar-se à família, mas eu não lhe dei moleza alguma. Evitei até que meu filho fizesse qualquer amizade com ele. Aquilo é o que se pode chamar de má companhia pra valer. Tenho horror dele, meu amor. Graças a Deus não é filho meu com o Waldemar.
- Engraçado...eu continuo com a impressão de que vi esse rapazinho saindo de sua casa...Acho até que comentei com você; não foi?
- Comentou, meu bem, mas aquele era o Jaime, um outro que queria de todo jeito ser amigo de meu filho. Não era um garoto com os cabelos pintados de louro vem vivo?
- Esse mesmo. Mas muito parecido com o rapazinho do ônibus.
- Pensando bem, é até um pouco parecido mesmo, mas acho que não tanto assim quanto você acha. O filho do Waldemar era mais forte, mais alto, sei lá. Mas, mudando de assunto, até achei bom meu filho ter ido para os Estados Unidos com minha irmã. Pelo menos ficou livre das más influências por uns tempos.
Eliane resolvera abrir-se com Beluzzi como prevenção. Antes que ele viesse a descobrir o envolvimento dela com o bandido e a julgasse à sua maneira. Duro mesmo era ouvi-lo referir-se ao filho dela da maneira que o fazia, não a deixando esquecer a violentíssima surra que aplicara no garoto e que quase o matara. De um modo geral, Eliane gostava mesmo do coronel, gostaria de ter sua vida resolvida com ele, visto que os dois tinham muito em comum tanto na cama quanto fora dela, mas seria impossível manter fora do conhecimento dele a quantidade de mentiras que faziam parte de sua vida irregular. Por enquanto tudo estava mais ou menos sob controle, mas ela sabia que não era nenhuma espécie de gênio da mal para dar conta de tudo, de todas as precauções e antecipações de problemas que a convivência permanente com ele lhe traria. por enquanto manobrara o filho para longe dos olhos dele, livrara-o da mulher, sabia-se a salvo das conseqüências das falcatruas que cometera em São Paulo e não tinha a mínima dúvida de que conseguiria tudo que desejava do coronel antes de sumir de sua vida para sempre.

Decorrido um certo tempo da morte da esposa, Carlos Belluzzi começou a fazer certas coisas que tinha vontade havia algum tempo. Vendeu os imóveis que antes alugava, as linhas telefônicas que acumulara durante um certo tempo para especulação, o carro da falecida ainda cheirando a novo e que, felizmente, fora comprado em seu nome e que por isso não precisaria aguardar inventário, e até mesmo as antigas, feias e enormes jóias que ela herdara da mãe. Aceitou, por fim, a boa oferta de uma imobiliária e a ela vendeu a metade do terreno onde se situava sua bela e espaçosa casa. Sempre considerara uma estupidez manter um terreno tão grande, tão cheio de árvores e grama de trato dispendioso, mas acabara fazendo-o por muito tempo apenas para evitar discussões com a falecida esposa. Queria, e conseguiu, em poucos meses, transformar em dinheiro vivo a quase totalidade de seu patrimônio e saberia aplicá-lo de forma segura e mais rapidamente rentável.
O que Belluzzi mais desejava no momento era poder pegar Eliane, arrumar as malas e sumir com ela pelo mundo por um bom tempo. Ir com ela para qualquer lugar do mundo que escolhessem e ficar fora de sua rotina por vários meses seguidos. Meses ao léu, sem pensar em trabalho, compromissos, contas, família, problemas, enfim, dar uma descansada da vida que levara até aquela altura.
Havia muito tempo que não viajava ao exterior apenas pelo prazer da viagem, como turista, apenas passeando e curtindo a vida fora do país. Quando voltassem da viagem ele e Eliane decidiriam quanto ao futuro de ambos.
Suas duas filhas haviam gostado de Eliane sem reservas. Apenas acharam-na muito jovem para o pai, mas isso não seria, na opinião delas, empecilho para que fossem felizes, a moça e o pai delas. As duas estavam bastante cientes de que havia muito tempo que o pai não sabia o que era uma convivência feliz, pacífica, tranqüila e com amor, e aos olhos delas, merecia muito isso. Podia até não ter sido um bom, ou pelo menos razoável marido, mas pai tão bom, tão dedicado, amoroso, amigo e companheiro parecia a elas impossível existir igual. E, além do mais, na idade delas, Eliane nunca seria a substituta da mãe. Seria apenas a mulher do pai. Talvez até uma boa amiga das duas moças. Acharam-na simpática, atenciosa, amorosa com o coroa, e parecia-lhes muito desprendida das coisas materiais apesar de muito trabalhadora e esperta em seus negócios. Parabenizaram sinceramente o pai pela escolha e o coronel sentiu-se o mais feliz dos homens. Pelo menos por algum tempo.

Passado algum tempo, sabendo-se financeira e mentalmente pronto para uma longa, bem longa viagem, Belluzzi perguntou a Eliane qual seria a viagem dos sonhos dela. Não precisava ela responder de imediato. Pensasse bem sobre o assunto e que lhe desse a resposta quando já tivesse em sua cabecinha um roteiro internacional que a deixasse feliz e realizada nesta primeira etapa da vida deles juntos. Enquanto isso ele tomaria todas as providências para a longa estadia fora do país.
Ficou feliz quando Eliane, passados poucos dias, lhe disse que seu sonho maior mesmo era conhecer uma boa parte da Europa, que quanto ao resto do mundo não tinha tanto interesse e nenhum interesse pela parte asiática, sentindo uma verdadeira indiferença e apatia por tudo que lhe lembrasse o Oriente.
- Na verdade, amor, eu morro de medo só de pensar nesses lugares que têm terremotos, vulcões, maremoto, essas coisas que podem levar a gente de repente e de uma vez por todas.
- Então, minha morena, o melhor é não sair do Brasil. É ficar aqui e correr outros tipos de risco, tais como uma facada no pescoço pra levarem seu colar, tiro no rosto pra levarem sua bolsa, bala perdida em confronto entre bandidos ou polícia e bandidos. Ficar aqui mesmo neste nosso país tão seguro e tranqüilo.
Os dois riram e concordaram na viagem inicial por uma grande extensão da velha e muito cultural Europa.

O nome de batismo de Eliane estava limpo. Completamente limpo sob todos os aspectos. Jamais respondera a qualquer inquérito, nunca comprara a prazo, jamais dera um cheque sem fundos com ele, nunca pagara uma única conta com atraso e assim procedera sempre por esperteza, nunca por honestidade. Todos seus muitos e rentáveis trambiques haviam sido cometidos com documentos falsificados com excelência, com alta qualidade gráfica e com nomes inventados com bastante antecedência para que ela se acostumasse com eles. Nenhum de seus golpes resultara ainda em sindicância ou investigação legal ou policial. Como cidadã, Eliane de Souza G. Antunes era uma pessoa acima de qualquer suspeita. E foi totalmente isento de qualquer suspeita que o coronel providenciou toda a documentação da amante para a longa viagem sem data para terminar.

Passagens compradas, passaportes providenciados, foram a São Paulo comprar roupas para a viagem em um luxuoso shopping em São Paulo. Um maravilhoso shopping recém inaugurado. Com imenso prazer Belluzzi tirava do bolso o talão de cheques e os ia preenchendo à medida em que Eliane fazia suas escolhas nas diversas lojas femininas e masculinas, escolhendo coisas para ela e para ele. Ele, feliz por estar presenteando-a à vontade, ela feliz por estar ganhando muitas coisas compradas com amor, esbanjavam risonhos e satisfeitos da vida.
Quando entraram na sexta ou sétima loja a proprietária ficou agitada como uma galinha caçada. Correu de um lado para outro do balcão, parecendo atarantada ao extremo e, sem a menor discrição, mandou que uma das vendedoras chamasse bem depressa os seguranças do shopping.

= Continua amanhã.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 18/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T569417
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