Longa espera

De um lado o riacho e do outro a mata densa, selvagem e perigosa.

Sobre um tapete de relva verde Leonardo aguardava sem pressa, apesar das incertezas, o momento tão esperado. Era sempre assim, desrespeitando os costumes de uma época rígida.

Um barulho de pisadas entre as folhas secas. Assustou-se ao perceber não ser ela.

"Como demora!" – pensou Léo.

Poderia ser tudo mais fácil, mas não encontrara permissão para aproximação, muito menos, para cortejar a pérola única da casa. Era um privilegiado por ter recebido dela, o beijo mais doce, mais desejado. Doce e longo beijo aquele primeiro. "Sim, fui o primeiro. Ela tremia em meus braços, aconchegava forte, como se tivesse medo" – pensava Léo dando vazão ao tempo.

"Por que demora tanto?" Ansioso levantou-se, tentou alcançar com a visão, a silhueta amada, distante. Nada. Só a fumaça, lá longe, na chaminé. Ela nunca havia demorado tanto desde o dia em que delimitaram aquele local como o preferido.

"Virá. É só esperar, nunca falhou" - confirmava a si mesmo contradizendo as evidências.

Olhou no relógio de bolso e espantou-se com a evolução das horas. Precisava parar aqueles ponteiros. Queria ficar com ela mais tempo, acariciá-la, beijá-la....

Andava de um lado para o outro, fumando o último cigarro. Jogou com força o maço vazio no chão, amassando-o com o bico da botina, com raiva.

"Como demora"- repetiu.

- Socooorro!

"Que gritos são estes? Alguém está gritando! Não pode ser ela. Sabe onde a espero."

Por instantes Léo olhou novamente para o infinito da mata. Havia um vaivém de pássaros, a bater asas, retornando ao pouso.

"Não virá mais. Está tarde. Talvez não conseguiu driblar os bigodes volumosos e ásperos, do pai."

- Léeo!

O eco ressonou agudo e triste guiando o rapaz em disparada, em direção à amada. No picadeiro, a relva verde mudara de cor. Roupas estraçalhadas por dentes pontiagudos, espalhadas no quadrante local.

Léo fora tomado por um desespero alucinante quando entendeu o que se passava. Seus sonhos acabaram ali. Enraivecido bradou: "Esta será sua última vítima, maldito animal."

Juraci Oliveira
Enviado por Juraci Oliveira em 05/03/2005
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