"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 30

"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 30

Cumprindo minha promessa, com esse capítulo coloco em dia as inserções do romance.
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Pobre adora pagar carnê do Baú, e por isso o Sílvio Santos tem o que tem. Pagar prestação de móvel, geladeira, fogão e perguntem ao seu Samuel se ele Pnão gosta de pobres. Mas uma coisa o pobre adora acima de qualquer outra coisa: receber atenção de gente rica. A empregada pode descer a lenha na patroa, mas fica toda inchada se esta a elogia na hora certa e na presença de testemunhas. O faxineiro de uma empresa pode ter vontade de matar o patrão, mas se um patrão batizar um filho dele, Deus ficará em segundo plano na vida do faxineiro. Por isso, meninas, é importante que vocês, como corretoras, sejam elegantes, bem vestidas, bem cuidadas, charmosas mesmo. Quanto mais elegantes ficarem, mais chances terão de fechar vendas. Nossos clientes deste loteamento adorarão entregas nas mãos de vocês o suado dinheirinho guardado na poupança. Agora, deixando de lado minha filosofia barata, mas nem por isso totalmente errada, voltemos ao trabalho, às coisas práticas da venda. No caminho de ida muitos ficarão curiosos e perguntarão os preços dos lotes. Não tenham medo de falar em preços pelo menos quatro ou cinco vezes maiores que os normais, os de verdade. Lotes de cinco mil, chutem para vinte mil, vinte e cinco mil. Lote de dez mil? Cinqüenta mil. Não se preocupem nem um pouco com o fato do pessoal viajar com a sensação, com a certeza de que não será possível comprar nem ao menos um lotezinho. Deixem que passeiem com a sensação de que estarão nos aplicando um golpe, passeando e tomando um lanche às nossas custas, sem nos dar lucro algum. Nem agora nem nunca.
- Desculpe interromper, Elinane, mas qual a vantagem de agir assim? Digo, de deixar o pessoal chateado na ida?
Eliane sorriu e não respondeu de imediato. Fez outra pergunta:
- Alguma de vocês é veterana em vendas? Quem for, levante a mão.
Duas das moças levantaram as mãos.
- Então vamos lá. Você. Responda à sua colega qual será a vantagem de, na ida, chutar os preços para o céu?
A moça olhou encabulada para Eliane e dirigiu-se a ela, e não à colega:
- Desculpe, Eliane, mas apesar de veterana em vendas, eu também não atinei com a vantagem de deixar um cliente em potencial chateado na ida.
Eliane mordeu a língua para não responder: “Você deve ser veterana em tentar vender”. Dirigiu-se então à outra moça:
- E você, responderia à sua colega?
- Acho que sim. Se o cliente viajar na ida com a certeza de que não poderá comprar, e na volta ficar sabendo que poderá comprar pelo menos um dos lotes, a venda sairá muito mais facilmente. Não é isso, Eliane?
- Claro que é isso, menina! Mas a gente não precisa falar a sério, secamente. A gente pode sorrir e dizer, por exemplo, “Calma, seu Manuel. O lote não chega nem a cinqüenta mil. Fique sossegado...”. Ou “Tenho certeza que mesmo neste preço o senhor quererá reservar pelo menos uns três ou quatro, não é verdade?”.
Durante o resto da tarde Eliane ensinou o que lhe foi possível às moças. Eram todas bonitas, inteligentes e pareciam ansiosas para começar logo a vender e a ver dinheiro em suas bolsas e contas.
Ao encerrar a primeira parte do mini-curso dado em apenas uma tarde, Eliane comunicou a elas que tinha uma triste notícia a dar-lhes. Olharam todas para ela, apreensivas, e aguardaram a má notícia dada com tanta seriedade. Eliane sorriu para amenizar a “triste notícia” e comunicou que a cada dia da semana duas delas seriam escaladas para estar às quatro e meia da manhã na porta da imobiliária.
- Nossa senhora, Eliane? Quatro e meia da manhã é de noite ainda...
- É de noite ainda quando é para trabalhar, não é, mocinha? Mas para chegar em casa com o namorado é bem cedo, não é verdade?
Todas riram e quiseram saber o porquê daquele horário esquisito.
Eliane tirou um dos talões de passagens do bolso e mostrou de que forma preparariam as vendas para os fins-de-semana.
- Todos os dias eu chegarei aqui às quatro e meia da manhã e esperarei por duas de vocês, as duas escaladas para o dia. Nem entraremos no escritório. As duas embarcarão comigo em meu carro e daqui correremos para o cais a fim de pegar o movimento das catraias. Alguém aqui ainda não sabe o que é catraia? Aquelas barquinhas que ligam Santos a Itapema, Vicente de Carvalho? Quem não sabia, fique sabendo. Estou vendo que aqui são todas riquinhas, filhinhas de papai.
Duas delas riram estrepitosamente. Faziam parte dos tão mencionados pobres que faziam todos os dias o trajeto das catraias. Mas eram bonitas, bem vestidas e naturalmente elegantes. Eliane achou por bem dar uma explicação complementar.
- Gente, quando me refiro a pobres não é no sentido pejorativo. Muitas coisas que eu disse eram apenas brincadeiras. Eu também não nasci em berço de ouro. Quero apenas classificar os que ainda não pertencem à classe média que, por sua vez, esforça-se para alcançar a classe superior. Entendido? Se nosso loteamento fosse destinado à classe média, eu teria brincado com a classe média.
Todas sorriram e uma perguntou como ficaria a escala de duas a duas se elas estavam em número ímpar.
- Não haverá problema algum. Na verdade vocês serão em número par. Há ainda três moças que já trabalham na imobiliária e que não pude deixar de dispensar desta nossa reunião de hoje. Estavam todas muito ocupadas fechando negócios. Com elas conversarei depois, em um horário diferente, que não as atrapalhe. Vocês serão sempre em um total de dez corretoras. Caso alguma não de adapte ao trabalho, queira sair por algum motivo, será substituída de imediato. Não quero menos nem mais do que dez moças trabalhando comigo. Mais do que dez seria muita gente para dividir as vendas, menos seriam insuficientes para atender a todos os interessados que quero captar. Bolo muito dividido fica com as fatias muito fininhas, não é mesmo? E nós somos um tanto quanto gulosas por dinheiro ou não somos? Quem ficar comigo ficará para ganhar muito dinheiro. Repitam bem alto comigo: Ganhar DINHEIRO!!
- GANHAR DINHEIRO!!!! Gritaram todas ao mesmo tempo e caíram na risada.

Às quatro e meia da segunda-feira seguinte Eliane chegou à porta da imobiliária e encontrou as duas moças escaladas para aquele primeiro dia. As duas estavam acompanhadas, cada uma por um senhor grisalho. Pais delas, evidentemente.
Eliane desceu do carro sorrindo e cumprimentando os senhores estremunhados:
- Essas meninas são um barato, não é? Para chegar de uma festinhas às seis da manhã, não têm problema algum, não existe perigo. Para trabalhar, o papai tem que trazer...
Os dois senhores riram, embarcaram em seus carros e se despediram concordando com a bela gerente de vendas.
- Meninas, não se esqueçam: cada passagem entregue tem que ser acompanhada de um belo e sincero sorriso e um bom-dia alegre, lindão mesmo e muito sincero. Nada de entrega automática, como se fossem duas maquininhas de entregar panfleto. Se fosse para distribuir assim, mal distribuído, bastava deixar uma pilha em algum canto e quem quisesse pegaria. Essas passagens, essa distribuição, será nosso primeiro contato com os possíveis clientes. Juram que mesmo que fiquem com câimbras nos cantos da boca não deixarão de sorrir a cada entrega? E não deixarão de dizer um belo bom-dia a cada pessoa?
- Entendido, combinado e jurado – disseram as duas como se tivessem combinado.
Em poucas horas, trabalhando até as oito da manhã, conseguiram entregar mais de quatro mil prospectos. Tomaram um lanche, descansaram na praia por algum tempo e depois foram para Vicente de Carvalho fazer panfletagem de porta em porta
- Vamos lá, mocinhas. Ânimo, que vale a pena. Vamos distribuir só por alguns quarteirões, mas vamos anotando as ruas onde passarmos para que suas colegas não entreguem de novo nas mesmas casas. Vale a pena o esforço. Vamos plantar mais um pouco para colher mais no fim-de-semana. Animadas?

= Conmtinua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 19/07/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T571703
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