O Lixo de Augustinho.

Estranho! Augustinho sentiu que o pé esquerdo estava molhado. Olhou para o chinelo e viu que era sangue. Não se lembra de ter pisado em caco de vidro, prego, timpete e nem tropeçado em algum lugar. Estranho, pensou.

Passou na porta da salgadaria e o estômago pulou de dor. Se se aproximasse mais uma vez daquele local seria esculhambado. Engoliu um pouco de saliva para aplacar a dor na barriga e foi para a esquina onde os jovens se reúnem para tomar cerveja, comer porções e ouvir sertanojo. Ficou por lá zanzando feito mosca em volta da carniça. Mas os chacais chegaram primeiro e eram violentos.

Ora ou outra aproveitava para beliscar um resto de mesa, um pedaço de cadeira, um papel esquecido na calçada.

Augustinho, cumprindo quase que diariamente esse itinerário, por fim sentava encostado na parede do Pedroso, debaixo do toldo. Só não fazia isso quando tinha disenteria, o que era semanal.

Ontem, sentado lá, mais cansado do que o próprio cansaço, viu uma mulher passar na rua, olhar bem para seus olhos e dizer:

LIXO!

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 03/08/2016
Reeditado em 03/08/2016
Código do texto: T5717873
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