Um ébrio

Cambaleia displicentemente, sem rumo, sem destino. Olhos ardentes refletem uma visão giratória. Hálito de imenso ardume provocado pelas várias doses de cachaça com limão que deixaram sua garganta abrasante.

Caminha ainda trôpego pelas calçadas esburacadas. Madeixas assanhadiças, barba por fazer, cheiro de um azedume equivalente ao sentimento amargo de seu corpo, marcado pelas cicatrizes, pelas coisas perdidas.

Ele quer agora gozar do prazer de se afastar de tudo que o aborrece e o entedia, quer agora apenas as suas “lapadas” para eliminar a frieza de sua alma.

“Derrama no meu copo as gotas últimas

Dessa garrafa negra.

Eia! Bebamos!”

Seu corpo magro é consumido pela bebida e em suas veias corre o álcool que ele considera a chama da vida. Sua fisionomia enrugada vai descaracterizando sua idade, assim como seus cabelos embranquecidos que aumentam metaforicamente seus anos de vida.

O crepúsculo vai surgindo e com ele vem uma neblina rala. O céu vai ficando acinzentado e o homem continua dormente, seus sentidos vão se esvaindo e a embriaguez o instiga, pois a sobriedade o atormenta.

As formas giram e na calçada seu corpo cai lentamente. Uma lágrima rola em sua face. Resta apenas esperar um alguém bondoso para ampará-lo. Cabe à chuva lavar-lhe as roupas e refrescar- lhe a alma desprezada.

Jucarvalho
Enviado por Jucarvalho em 20/07/2007
Código do texto: T572579