ESTUPRICIO

Numa cidade interiorana qualquer

Onde todos conhecem todos

Onde no alvorecer do dia

Todos ao se cruzarem dizem

- Bom Dia!

E quando o Sol chama a Lua

Todos ao se cruzarem dizem

- Boa Tarde!

E quando a Lua brilha majestosa

Todos ao se cruzarem dizem

- Boa Noite!

E os guris e gurias pedem bênçãos

Quando passam qualquer um ancião

Nessa cidade mora a família Santos

O Pai, A Mãe e a única filha, a Rosa

Já uma bela rapariga ganhando

Corpo de mulher e pele de seda

E que com sua beleza encantava

Não havia um só mancebo na cidade

Que não a desejasse cortejá-la

E até mesmo os mais maduros varões

Por onde Rosa passava com sua fragrância

carinhosamente era chamada de roseira

Todos os olhares dos mancebos a seguiam

E todos os membros se erguiam em riste

Rosa despertava o libido, a perdição

Os desejos e as fantasias dos homo sapiens

Mas Rosa menina morena angelical

A inocência ainda guardava no olhar

Enquanto os mancebos desejavam

Desabrochar, despetala-la, beijar flores

e provar o nécta como se fossem colibris

Comer flores como se fossem uvas

Rosa morena com seu atraente corpo

Andava sonhadora pelos verdes campos

Banhava-se inocentemente no rio

Aos olhos carnívoros dos rapazes

Desejos inconfessáveis dos lobos

Mas por ser uma pequena cidade

Onde todos conhecem todos

O respeito contia os desejos da fome

Da maioria dos mancebos sonhadores

Ah se eu te pego, ah se eu te pego

Assim você me mata, pensavam os lobos

Até que numa certa tarde nebulosa

Rosa sai levando sua inocência

A brincar entre a natureza florida

Seus pais matutos se preocupam

Cadê a Rosa, já deveria ter voltado

Os Santos rezavam e aguardavam

Enquanto se principiava o anoitecer

Enquanto isso...

Entre os arbustos verdejantes

Quando menos se esperava surge

Um palhaço atrás da moita robusta

Rosa é despetalada, desvirginada

Estuprada , misto de medo, horror

prazer e dor e tendo como testemunha

apenas as estrelas e a formosa lua cheia

Rosa sem as pétalas da virgindade

Chora sua dor e sua vergonha exposta

Corre enfraquecida pela cidade semi nua

Ao olhar do luar e de todos com espantos

Que a perseguem até ao seu lar doce lar

E lá chegando os gritos assustados dos pais

- Valei-me Deus o que é isso?

Rosa sem cor e com as roupas rasgadas

Vermelhas de rubro sangue é oceano em choro

Rosa chorando, soluçando quase sem voz diz

Um Palhaço do nada apareceu meu pai

Me agarrou ficou em cima de mim minha mãe

Quem! Quem! Quem Foi? Berrou o pai e a mãe

Não sei papai, não sei minha mãe, foi um palhaço

Foi um palhaço que roubou a inocência

A beleza, a virgindade e os sonhos de amor

da menina roseira angelical pele de seda

A vizinhança no portão curiosa apurando

Olhares e ouvidos atentos, investigação

Invejas de umas, maldições de outras

Quem, quem é o palhaço sedutor

Todos queriam saber da assustada Rosa

Toda pacata cidade agora sabe

A Rosa não é mais menina virgem

Os mais velhos a chamavam agora

De Rosa despetalada trepadeira

A crucificaram como mulher pecadora

Agora é mãe desamparada solteira

E os mais novos rapazes inveja do palhaço

Ainda a desejavam possuí a falsa madona

Passaram os meses e a Rosa entristeceu

Choveu rios de choro na Sra. Roseira que

Se fechou ao amor, o medo ficou

A inocência se perdeu, o sonho murchou

Corpo engordou e o arrebento chegou

Olha aí o guri fruto de um estupro

Seus avós nutrindo um sentimento repulsivo

De raiva, amargura e desprezo por Jesus

Sim o guri foi batizado como Jesus Santos

Todos da pequena pólis sabem

Como Jesus veio ao mundo

Parar naquela pacata cidade

Sua mãe tenta nutrir pelo menino Jesus

Um amor a ser construído aos poucos

Oh tempo rei que faz cicatrizar

E amenizar as feridas mas nunca esquecer

Jesus recebe educação e instrução

Um pouco de carinho e piedade

Um pouco de amor até com o tempo

E na escola e nas vizinhanças

É chamado jocosamente de

Estuprício, cadê Jesus?

E ele fica sem saber porque

Estuprício chamado ele é

Na festa do dia dos pais

Na escola Jesus seco chorava

Mas com a alma sentida

E soluçando perguntava

Cadê meu pai mamãe?

Rosa perdia a cor e o chão

E chamava na lembrança a sua dor

Engolia seco sua mágoa e sua raiva

E chamando a fantasia dizia:

Seu pai viajou com o circo

Foi fazer palhaçadas em outras paragens

Mas quem teria sido o palhaço

Que com cruel violência a desvirginou?

Um palhaço forasteiro ou

Um covarde palhaço da vizinhança?

Um mancebo lobo de indomável desejo

Ou um imaturo senhor que a aparência engana?

Quando uma criança pergunta algo

É porque ela já está em condições de saber

(Professam alguns psicólogos) Será?

Quanto ao palhaço...

Ninguém sabe, ninguém viu

O certo é que quando a carcaça fenecer

E a máscara cair na incelença

Esse palhaço terá que prestar contas

Aos Santos e em especial a Rosa e a Jesus

O que você faria, contaria a verdade

Crua e nua? Algum vizinho imprudente

Poderia dar com as línguas nos dentes

E Jesus perguntar: Cadê o palhaço mãe?

O que os Santos deveriam fazer

Expulsar a Rosa do jardim familiar

Ou partir com a família para outras paragens?

Deveria a Rosa expulsar o guri de seu ventre?

Doar a um estranho ou abandonar a própria sorte?

Rosa jamais saberá a real identidade

Do covarde palhaço pai de seu guri Jesus.

Apesar dos julgamentos condenatórios alheios

Da vergonha e da cicatriz de dor na alma

Da desconfiança dos seus matutos genitores

Rosa sem sonhos optou em ter e criar o seu guri

Deseja aceitar e amar o seu menino Jesus

Rosa Cruz, a Senhora Roseira leva sua cruz

O que você faria, diria a verdade

Ao menino Jesus?

Observações:

Se toda Rosa tiver que ser despetalada, que seja com consentimento, amor e carinho.

Existem Palhaços e “palhaços”, meu respeito e admiração aqueles que fazem da arte de alegrar o seu ganha pão com dignidade.

Jô Pessanha
Enviado por Jô Pessanha em 26/08/2016
Reeditado em 03/09/2016
Código do texto: T5741005
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.