"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 32

Antes que o homem pudesse perguntar-lhe o nome do marido advogado, Eliane chamou-o de lado com um ar cúmplice:
- Seu Edmar, quero lhe fazer uma proposta em segredo absoluto, mas o senhor tem que me jurar que não dirá nada a ninguém, a ninguém mesmo. Olha só: se o senhor ficar com esse lote de esquina, o grandão, agora, neste minuto, eu lhe darei um lote menor, mas também de bom tamanho, ao lado do seu. E sem cobrar um centavo a mais por ele. Mas é proposta para não pensar duas vezes. É sim ou não no ato.
Seu Edmar arregalou os olhos.
- Mas espere, seu Edmar. Tem mais: se o senhor convencer seu amigo, aquele que veio sentado ao seu lado no ônibus é seu amigo, não é? eu aumento minha oferta de terras para o senhor ainda mais um pouco.
- Um de cada lado? E com quanto eu fico de terras no totar?
- Vamos ver...mil e quinhentos do de esquina...que coisa linda...mais setecentos e cinqüenta do terreno ao lado...dois mil, duzentos e cinqüenta metros. Que maravilha de extensão de terras, hein, seu Edmar? Já pensou? Seus netos ficarão loucos de alegria correndo à vontade pelas terras do avô; já pensou?
A expressão de seu Edmar era de felicidade pura. Sua poupança iria embora de vez, mas logo ele seria proprietário de uma imensidão de terras perto da praia de Itanháem. Local de futuro sonho de consumo dos ricos. O que mais um homem poderia querer na vida? Nem consultaria a patroa.
- Tá fechado, moça. O meu amigo sempre me acompanha nesses investimento. Marca aí no paperzinho pra mim os numo dos lotes que serão meu. O grandão de esquina e os dois dos lado. Vô deixá uns quinhentos metros pra cada um dos meu menino.
- Cinco filhos, seu Edmar?
- Afora os que eu num tô sabeno...
Eliane deu-lhe uma carinhosa cotovelada enquanto ria com espalhafato da “espirituosidade” do feliz “latifundiário”:
- Homem de negócios e ainda por cima sedutor...E se o senhor convencer seu amigo a comprar dois lotes, ainda arranco mais um da imobiliária para o senhor. Não vá pensar que estou doida, mas já vi que se o senhor comprar eu terei muito mais facilidade de vender para os outros. O senhor tem o jeito natural de condutor das massas, do homem que os outros acompanham por saber que é um líder nato, um formador de opinião, gente que influencia os outros.
- Que nada, dona Eliane. Isso tudo é apenas bondade sua. A gente fazemos o que se pode pra abrir os olhos do povo, mas a senhora sabe como o iguinorança é mais forte, mas uma coisa a senhora acertou: eu sou bastante amigado lá em Itapema.
“Deve ser parente do Geraldo Carcereiro”- Eliane não pôde deixar de pensar.
- O senhor pensa em pagar a entrada em cheque ou em dinheiro, seu Edmar?
- Em dinheiro vivo, dona Eliane, mas agora tenho pouco no borso. Tenho que ir na popança retirá a bufunfa e adispois levá pra senhora.
- Sem qualquer problema, seu Edmar. Assine o contrato que eu pagarei a entrada para o senhor ainda hoje na imobiliária. É melhor a gente garantir esse lote bem garantido, já que há muita gente de olho nele.
- Porquê é que a senhora vai pagar a entrada pra mim? Eles num pode esperá até segunda-feira? Tão desesperado assim?
- Não é isso, meu amigo. É que o acordo que temos é o seguinte: quem levar o contrato com a entrada garante o lote para o cliente. Tem a preferência. Já pensou se alguma das moças traz um interessado e vende a ele o seu lote? Pronto, lá se vai por água abaixo a nossa negociação. Nós dois ficaríamos muito aborrecidos, não é mesmo? Prefiro pagar por ter certeza de que o senhor é um homem de palavra, que estou lidando com um macho que honra as calças que veste e não vai dar pra trás depois de assinar um documento.
- Brigado, moça, mas faz o seguinte: leva agora o que tenho cá comigo e na segunda eu compreto o que farta. Guarde seu dinheirinho que deve ser bem suado.
Enfiando a mão no bolso, seu Edmar tirou um maço de notas graúdas. De cara, Eliane notou que o homem tinha no bolso quase que o total da entrada. Faltaria quase nada para completá-la.
- Qual é seu ramo de negócios, seu Edmar?
- Ferro véio, dona Eliane. Vida danada de dura...
- Mas pelo menos é um bom negócio.
O sorriso feliz de seu Edmar desmentia suas palavras.
- Que nada, dona Eliane. É muito capitar pra pôco giro..

Muitas pessoas acompanhavam a conversa de Eliane e seu primeiro cliente. Assim que ela guardou o contrato e o dinheiro do homem em sua bolsa o cerco fechou-se em volta dela. Vários contratos foram fechados em minutos, com ou sem cheque ou dinheiro, com todos os dados necessários . Importante fora que muita gente assinou e ficou de levar a entrada o quanto antes à imobiliária. Assim que achou que poderia dar uma paradinha no atendimento ao seu pessoa, Eliane deu uma volta pelo pedaço. Queria ver como estavam indo as moças no atendimento aos seus clientes. Pela movimentação, pela euforia, pelo clima geral entre as pessoas pôde sentir que estavam se saindo muito bem, preparando ou efetuando muitas vendas.
No caminho de volta as vendas continuaram acontecendo dentro do ônibus. Os que não sabiam escrever esperavam impacientes que as moças preenchessem seus contratos. Tinham todos em comum o fato de haverem esquecido seus óculos em casa, por isso, e só por isso, não preenchiam eles mesmos os pedidos de reserva de lotes.
Quando o último lote saiu da porta da imobiliária as moças não cabiam em si de contentamento. Com as faces vermelhas de satisfação, cansaço, euforia. esperavam pelo julgamento final de Eliane. Um monte enorme de dinheiro e cheques estava em cima da mesa de reuniões , grampeados ou com clipes, mas presos aos respectivos contratos de compra e venda.
Eliane aproximou-se do grupo com a cara fechada, as sobrancelhas quase unidas uma à outra,. chamou-as para perto de si e com o dedo em riste, encarou-as:
- Moças, sinto muito ter que lhes dizer isso, mas apesar de todos nossos esforços, o dia de hoje foi...
Parou, fechou ainda mais a cara e de repente soltou um berro:
- UMA MARAVILHA!! VOCÊS ESTÃS TODAS DE PARABÉNS!! VIVAAAA!!
As moças pularam de alegria, abraçaram-se, dançaram e bateram palmas com enorme euforia. Os sócios da imobiliária sentiram-se comovidos com a demonstração de alegria e saíram abraçando a esmo o pessoal feminino.
Feita a contabilidade do dia, chegou-se à conclusão de que em quinhentas e quinze pessoas que haviam ido a Itanhaém naquele dia, em sua maioria casais, haviam sido assinados duzentos e trinta e quatro contratos, entre os quais quase duzentos com sinais a serem completados ou totalmente pagos, vários com pequenos valores a título de sinal e uns poucos sem sinal algum. Mesmo que houvesse uma porcentagem significativa de desistências, no que Eliane não acreditava, ainda sobraria uma boa quantidade de vendas firmes, concretas mesmo.
No dia seguinte, um domingo maravilhosamente ensolarado, o sucesso repetiu-se. O número de reservas concretizadas superou o do sábado.
Os donos da imobiliária olhavam Eliane como quem encara uma deusa que tivesse descido à Terra para alegria exclusiva deles. Jamais haviam ganhado tanto dinheiro em suas vidas em um ano, quanto mais em apenas um fim-de-semana.
= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 22/07/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T574446
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