A maldição

Ela tinha aquelas curvas, terríveis e bem preenchidas. E aqueles olhos, olhos famintos por encontrar e seduzir os pobres e inocentes homens que se sujeitavam a seus encantos. Era um problema ambulante, embalado em saias coladas e camisas sociais. Quem a olhava nunca imaginária que aquela frágil e doce criatura era tão perversa, e sem empatia por ninguém, apenas um ego que precisava ser acariciado por suas vítimas. Nada lhe assustava, não existia homem ou mulher que lhe desse medo, sabia que sempre daria seu jeito e escaparia intacta.

A Cada nova vítima de coração partido, sentia se incrível, porém depois de alguns dias o vazio e a solidão apareciam para lhe fazer companhia, e aos poucos o número de pessoas que precisava ao seu redor para lhe deixar cheia de si foi aumentando. Logo as confusões começaram, destruiu amizades, tornou vidas amargas, e não conseguia parar, enquanto não era o centro de tudo não se sentia satisfeita.

Aos poucos, foi novamente perdendo todos que tinha, ficando apenas com alguns bons amigos, que já a conhecendo, sabiam como burlar seu jeito soberbo. A solidão cada vez maior, e sem rumos na vida, não queria mais destruir corações, e tornar pessoas infelizes. Suas mãos, manchadas de sangue, marcas de corações partidos que carregava, e os ombros pesados de toda a mágoa que havia causado, tornavam a dor ainda mais insuportável, sua consciência cheia de culpa já não conseguia apontar suas qualidades em frente ao espelho, ela já não via mais o tão amado ego, que por anos cultivou e cuidou tanto. Aos poucos, desprendeu se de si mesma, e começou a deixar de lado todos os cuidados antes necessários para sua boa aparência, manteve apenas os cuidados de higiene, de resto nada mais. Tomou sua beleza como maldição e a tratava como fraqueza.

Os amigos a viam agora mais leve, mais humana e altruísta, dedicada não somente a si mesma, mas a todos ao seu redor, mais amável.

Foi quando ele apareceu em sua vida. Bonito, alto, interessante, aparentemente o homem ideal, sempre educado e bem arrumado. Aos poucos um ou outro detalhe foi surgindo, uma maquiagem leve, uma roupa mais ousada, tudo para chamar atenção do tão desejado. Ela, que antes conquistava e pisava em paixões, agora estava terrivelmente presa ao sentimento que tanto desprezou. Estava apaixonada.

Para seu alívio, o tão desejado lhe correspondeu, e lhe demonstrava grande paixão, grande afeto, e algo que os aproximava dos romances clássicos, as belas palavras trocadas pelo casal (porém agora por meio eletrônico, nada de cartas), as declarações públicas de amor, e o pedido, acompanhado de flores e um belo anel dourado, a prova que ela esperava. Dali um ano exatamente iriam se casar.

Porém, nesse ano, o mar de rosas tornou se em um caixão coberto de flores. A jovem, não tão preocupada com sua beleza, pois já tinha encontrado o amor, começou a receber inúmeras cobranças de seu amado. Queria exibi lá aos amigos, mostrar como era linda sua jovem noiva, como era sortudo e batalhador por ter conquistado o coração da mais bela. Seus esforços voltaram se para agradar seu amado, estar sempre bela, sempre sorridente, apesar das cobranças, das infinitas discussões e insultos que ele lançava em sua mente como tapas, ela sempre se esforçou para estar satisfatória.

A notícia a chocou. Assim como a todos que os conheciam. Ele estava noivo de outra, e se casaria em alguns dias. Uma moça ainda mais jovem, com belos e longos cabelos, e curvas quase comparáveis a de um violão. Caída, machucada e sozinha, encontrou se com nada além de seu coração quebrado e sua beleza. Olhando para o espelho, a amaldiçoou e com socos de raiva e mágoa o quebrou em estilhaços. "Dane se o azar, eu já o tenho sobre mim em forma de beleza!" e ali ficou, em meio aos cacos, pedaços de espelho e de seu coração espalhados ao seu redor. Olhando para os reflexos destruídos decidiu, o amor não vale a pena. E com um caco maior, cortou o tão lindo rosto, abrindo um corte que ia desde a testa até o queixo ao lado esquerdo, o lado do maldito coração. "Quem me amar, me ame pelo que sou."

Uma coisa antiga, que achei no meu tumblr.

Olinda
Enviado por Olinda em 06/09/2016
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