AVENTURAS LITERÁRIAS - EP 10 - O FESTIVAL LITERÁRIO DE OPIGUARÉ
FESTIVAL LITERÁRIO DE OPIGUARÉ – A CIDADE DO AMANHÃ.
O cartaz com o anúncio, condições, data e indicações sobre local e evento, estava por todo lado, espalhado por diversas cidades e estradas da região, o que causou estranheza.
Opiguaré tinha se emancipado como município havia dois anos, com população total de duas mil e uma pessoas (embora essa uma, pelo que constava, já morrera meses antes), só uma rua calçada, onde estava estabelecido todo o comércio, ou seja, a venda de seu Honório, que também era farmácia, posto de correio, fornecia material de construção e, num cantinho dos fundos, tinha roupa fina para senhores, senhoras e fedelhos (assim anunciava num cartaz).
A verba municipal não dava nem para pagar o salário dos funcionários, que se resumiam ao prefeito, vice-prefeito, dois auxiliares gerais e dois vereadores. Seu Honório se recusava a pagar qualquer imposto, bem como os moradores, que viam o alcaide como um esquisitão, sempre tentando convencê-los de que já não moravam mais em Jabucicanga, cidade da qual Opiguaré era distrito até a emancipação. Sempre lhe respondiam:
- Jabucicanga não se mudou, nóis não se mudemo, entonces tá tudo como sempre teve.
Quando os dois funcionários municipais e o vice-prefeito anunciaram o abandono do emprego, por falta de condições (e dinheiro), Januário (o prefeito) chamou os vereadores e bolou o festival, dizendo-lhes que o dinheiro das inscrições viria a calhar, além de poderem atrair turistas e movimentar o comércio.
- Que comércio? A venda do Honório?
- Gente de eventos. Vêm pelo festival e deles vamo cobrá taxas.
- Onde vamo por essa gente? Num temo nenhum lugar por aqui.
- E o pasto do seu Varne Porqueiro?
- Aquilo fede mais que privada de rodoviária. Ninguém vai aguentar.
- A gente faz uma faxina, dá um jeito. Vai tê que serví.
A festa seria em um mês, mas . . . enquanto os habitantes ignoravam os cartazes, por não terem idéia do que significava, prefeito e vereadores, com a ausência de interessados, nem pensaram mais no assunto, até que surgiu solitário gato pingado, procurando pela prefeitura. Informaram-lhe que ficava nos fundos da barbearia do Januário (sim, ele era barbeiro, também). Cismado com a notícia, para lá se dirigiu, prevendo uma roubada.
- Bão dia! Cabelo e barba?
- Não! Inscrição para o festival literário.
- Ah, bão! É com o prefeito e os vereadô. Vai pelo quintar, que eles tá lá no fundo.
O espantado forasteiro andou pelo extenso terreiro, entre galinhas e marrecos, e bateu na porta de um puxadinho capenga. Convidado a entrar por um grito, lá de dentro, abriu e viu três homens de cuecas, jogando dominó e fumando cigarro de palha. O ar estava empesteado.
- Vim fazer minha inscrição para o festival.
- Olha, seu moço! Num sei bem purque, mas tirando sua pessoa, ninguém mais veio.
- Deve ser por causa do outro festival, em Opiguaré.
- Que outro festival?
Foi então que souberam, Numa cidade pouco distante dali, cujo nome era, também, Opiguaré, resolveram fazer o festival, por receberem muitas inscrições e gente interessada em participar da tal festa. Os interessados foram parar lá, apenas porque Januário esquecera um detalhe: sua cidade, na realidade, chamava-se Opiguaré das Antas, para diferenciar da outra (que não tinha antas). Os três, surpresos e abobados, de boca aberta, deixaram cair o pito.
- E ocê, moço! Porque acabou chegando aqui?
- Já fiz minha inscrição lá, mas quis ver se vocês tinham outra festa. Aliás, porque dizem que esta é a cidade do amanhã?
- Bão! De hoje é que num é, né? A gente tem esperança. O senhor é escritor?
- Sou! E por falar em esperança, espero ainda tornar-me um acadêmico, um imortal.
- E se a gente fizesse uma academia literária opiguarense, com gente famosa?
- Tem que ser gente daqui, não de fora.
- Entre nóis só tem meia dúzia que sabe ler, mas o nome ia ficar bonito: Academia Literária Opiguarense – ALO. Que o senhor acha?
- Acho melhor tomar cuidado dessa vez, e completar com ALO DAS ANTAS.