marca do tempo

marca do tempo

A marca deste tempo não tem sombra, nem sobra o traço na areia: a marca do tempo deste conto. Vou contar, não tenho pressa, é noite e estou sentado. Sentei-me com o portátil ao colo e escrevo, como se imaginasse poder ver-me escrever. Depois deste primeiro parágrafo, imaginem-me a transcrever:

«Tracei a linha na areia, agora estou sentado em frente a ela. Olho-a perpendicularmente, ela está à minha frente. O que faz com que a olhe estando sentado ao lado dela, tendo-a em frente. Isto permite pôr em causa toda a argumentação descritiva, a exactidão com que o cenário está a ser dado. Dou tempo...

Acho que o parágrafo deve parar, ser isolado, fazer parte de si mesmo. As partes são sempre partes dum todo, sendo qualquer parte todo também: a boca é um mundo, a Língua um Universo, o universo pode ser nulo: conjunto vazio, sem elementos.

Sentei-me aqui a olhar a linha, a ver o mar em frente e a pensar. A ideia, bastante simples: ver na linha uma "marca do tempo".

Desenhei-a na vertical, perpendicularmente ao mar que se prolonga na horizontal por onde a linha, enquanto definição geométrica, abstracção no real, se prolonga à frente e para trás. Uma criança viu a linha, correu e saltou, caiu e ri-se do seu salto em comprimento.»

A linha ~~~ do tempo: antes do salto, depois do salto; o escrever e o transcrever; a criança a correr e sentada a rir; a linha ~~~ irregular, a marca do tempo.

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 25/07/2007
Código do texto: T578943