Casa.Casulo

ainda lembro o dia em que eu acordei e logo pela manhã me deparei com aquele amontoado confuso de coisas e pessoas no terreno que ficava a frente da minha casa. foi do dia para a noite que as casinhas foram construídas e eu não ouvi um barulho se quer de martelada ou de gente discutindo sobre esse projeto arquitetônico que estava ali pronto para ser habitado. os materiais utilizados eram tão inusitados que a princípio tive dúvidas se eram casas ou um casulo construído por pessoas. logo na entrada havia um muro feito com restos de construções um portão enferrujado e pelas grades podia se ver varais ostentando lenções alvos brancura que não se via nas paredes que foram construídas de maneira aleatória e grosseira. a mescla de madeira e alvenaria estava por toda parte. as madeiras eram nitidamente reaproveitadas e quando chovia delas exalava um cheiro forte de mofo. entre o lixo e o esgoto a céu aberto as crianças corriam descalças enquanto as lavadeiras recitavam ladainhas ancestrais. devido a falta d'água bicas feitas com mangueiras e canos velhos preenchiam os cantos entre as paredes e o pátio estreito. com o passar dos dias fui me acostumando e percebendo que se tratava sim de um casulo. aquilo tudo era provisório. aqueles moradores precisavam daquela moradia miserável para concluir o ciclo de sua metamorfose mesmo que a fase do casulo dure a vida toda.

Luciana Limah
Enviado por Luciana Limah em 13/10/2016
Reeditado em 14/10/2016
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