Paradoxo

Atenção senhoras e senhores, o espetáculo vai começar! Sob a lona colorida adultos e crianças aguardam atentos o espetáculo circense. Pipocas, balas, maçãs, picolés. Luzes acesas. Euforia dos espectadores. Surge um homem trajado de um colorido cintilante anunciando o início da apresentação.

Palhaços brincam e contam anedotas. Risos do público. Aplausos. Elefantes fantasiados. Focas equilibristas. O esperado leão. Um homem que engole fogo. Curiosidade dos pequenos. Como ele consegue? Será que ele se queima? A imaginação prevalece. Sonhos são despertados.

E eis que, para o espanto de todos, cai a máscara do pierrô, antes ingênuo e sentimental, agora insensível e ruim. Ninguém imaginava que por trás daquela fantasia existia um rosto que refletia tamanha maldade. Para tristeza dos inocentes, era apenas um disfarce, um pierrô sem meiguice, sem bondade.

A emoção toma conta da platéia. As crianças tristes e chorosas se decepcionam. O espetáculo perde o rumo, o trapezista cai juntamente com o babado do pierrô. A corda fora cortada.

As luzes apagam. O medo predomina. Choro de criança.Lamento dos pais. Picadeiro sombrio. Balbúrdia. Algazarra. Tumulto. Nem mesmo o domador consegue atenuar tamanho alvoroço.

Reacendem as luzes. O homem de roupa colorida prepara-se para o pedido de desculpas, mas o circo está vazio e o palco está repleto de maçãs, picolés, pipocas, além do silêncio repercutido pela sensação de desengano dos pequenos espectadores, que saem da lona desiludidos, a supor que um simples pierrô transformou-se em um monstro horrendo.

Jucarvalho
Enviado por Jucarvalho em 25/07/2007
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