928-UMA TARDE DE CÃO NO COGSWELL COLLEGE-Viagens

UMA TARDE DE CÃO NO COGSWELL COLLEGE

Terceira Parte das narrativas de viagem

“Deixei meu Coração em San Francisco”

Entramos – eu, Enny, Collete, Carlos Eduardo e Marília – com malas e bagagens no Cogswell College e fomos direcionados para uma sala ampla onde deixamos nossos pertences em segurança e admitidos na secretaria. Espaço pequeno para todos nós, mas de um jeito ou de outro, nos acomodamos. À mesa, um senhor de uns 35 anos, calvo, loiro e simpático, apresentou-se como professor Steve, foi tomando nossos nomes e consultando pastas. Collete, Carlos Eduardo e Marília já tinham pastas, pois os pagamentos feitos antecipadamente no Brasil já haviam chegado.

Dirigindo-se a mim e a Enny, disse que nada havia no ELS em meu nome nem de Enny. Não estávamos inscritos! A inscrição compreendia o pagamento do curso e dos alojamentos em hotéis conveniados. Nossos nomes nem constavam da lista de alunos.

De imediato, Enny e eu levamos um susto. Foi preciso o professor Steve repetir diversas vezes para eu entender e acreditar no que ele estava falando. Mas tentou nos tranqüilizar, dizendo que iria nos atender depois dos três que já tinham as “fichas de inscrição”.

Necessário dizer que o sangue me subiu à cabeça. Deixei de raciocinar direito e só pensava numa coisa: calote! Havíamos sido embromados em Belo Horizonte! Entregaram-nos as passagens e escamotearam os valores pagos para o curso e o hotel.

Nem as palavras de Enny e de Carlos Eduardo, tentando me acalmar, o conseguiram. Esperamos ali, sentados, cansados da viagem e com os piores pensamentos. Numa situação dessas, agente só pensa o pior.

Hora e meia depois, creio (nem do tempo eu tinha mais noção), o professor nos atendeu. Então, notando minha dificuldade em entender o inglês (nunca fui bom em ouvir e falar o idioma, apesar dos meus “certificados”) ele explicou-nos em espanhol, e aí foi mais fácil.

Caso seguinte: a firma ou empresa com a qual negociamos em BH não era representante do ELS e de nada valiam os recibos que apresentei, dos pagamentos feitos à firma “Intercâmbio”. Então senti mesmo que fôramos caloteados. Os recibos simples, sem mencionar o ELS, e assinados pura e simplesmente por Claudia Rosendo, sem sequer um carimbo da firma.

Eu não queria acreditar. Não via solução. Os dólares que levava (em cheques de viagem, muito em uso então) Não eram suficientes para pagar aquelas despesas.

Cheguei a falar com Enny:

— Vamos ter de voltar imediatamente ao Brasil. O dinheiro que trazemos não dá prá nada.

BUT...

O professor Steve continuou com paciência sua exposição da matéria: Havia casos em que o pagamento efetuado no país de origem dos estudantes demorava a chegar aos Estados Unidos — principalmente os pagamentos vindos do Brasil...!

SO? – Atreví-me a dizer.

Então ele nos explicou que faria a nossa matrícula e nos encaminharia ao hotel conveniado, mediante nossas assinaturas em carta em que nos comprometíamos a pagar aqueles valores tão logo chegasse a ordem de pagamento, que viria em meu próprio nome.

Assinei temeroso. Enny ainda mais temerosa assinou também.

A sorte está lançada, pensei. Se este dinheiro não chegar, estou ferrado.

AND ANOTHER THING...

Como os estudantes que haviam terminado o curso naquela semana ainda não haviam desocupado as acomodações no hotel em que seríamos acomodados, teríamos de ir (isto valia também para Collete, Carlos Eduardo e Marília) para um hotel, ali por perto, onde ficaríamos até segunda feira pela manhã. O pagamento das duas diárias seria por nossa conta.

O próprio professor Steve nos levou ao hotel, a apenas uma quadra do Cogswell College.

Acalmado com relação aos pagamentos feitos em Belo Horizonte, ainda me sentia apreensivo, e comentei com Enny:

— Se forem aparecendo despesas inesperadas como as diárias deste hotel, vamos ficar na lona antes de terminarmos a viagem.

— Tome um banho e vamos dormir. — Ela recomendou. — Amanhã a gente vê.

Fomos para cama bem cedo, era perto das oito horas da noite (8 PM como dizem aqui).

Como a noite é uma criança, ainda iría viver emoções antes que ela terminasse.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2015.

Conto # 928 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 28/10/2016
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