PROFESSORA IMPROVISADA QUE NUNCA FALHOU

Memória confidencial de uma parenta, prima de talvez terceiro grau......... muita diferença de idade.

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ELA teve quatro filhas. Aos dois anos, pais foram ao teatro, crianças aos cuidados de uma excelente e dedicada babá, porém a caçula teve uma súbita e bruta congestão cerebral, diagnóstico tardio no dia seguinte, “talvez por indigestão” (porém nenhuma refeição fora de controle), tempo antigo de poucos hospitais de urgência. Impossível saber de imediato a extensão da doença e se irreversibilidade ou não.... Dificuldade para voltar a andar. Longo tratamento com muitas massagens e estímulos incríveis. Tudo ELA vencia. Anos passaram... A irmã mais velha foi ser secretária do chefão máximo de uma loja de departamentos, tendo como auxiliar uma das irmãs; a outra iniciou-se modelo de roupas, desfilando em salões de estilistas chiques. E a nossa caçula? A duras penas, aprendera a ler em casa, acompanhou a mãe no dia da matrícula, bem guriazinha, discutiu com a diretora - choro nenhum! - ameaça de rejeição e terminou os cinco anos da escola primária sem reprovação alguma. Aceitava suas limitações. Moça bonita. Ora, sobrinhas nasceram, cresceram e, imitando-se ou vocação coletiva, todas cursavam a escola normal, formação de professoras primárias. É, sem impedimento ou interferência de ninguém, também desejou ser professora......... Família toda junta numa casa muito grande, serviçais analfabetas, por conta própria ELA comprou cadernos, cartilhas e lápis; marcou dias e horários para as aulas na varanda, alfabetizou, ensinou leitura e matemática elementar - contas e problemas em que tivera dificuldade no passado: após o jantar, estudava e preparava a próxima aula. Milagre nenhum, apenas muita força de vontade. Severa. Ai de quem não fizesse o trabalho de casa!!!

NOTA DO AUTOR:

LEIAM meus contos “Bananas verdes” e “Brinquedos intocáveis”.

F I M