EXIBIDA RAINHA DAS PALAVRAS CRUZADAS

Inteligente, culta, muita literatura, porém... não cursou Oratória nem Direito, diz que uso de linguagens “complicadas e difíceis” (palavras dela), ou seja, “significantes /sons/ sem significados de audição, cheiro e sabor imediatos.........” - tenho que aturar estes ‘elogios’?

Para me testar, um belo discurso e - embora EU seja implicante (“à toa e atoa”, é minha mulher dizendo), irritável e irritante Ariano - melhor bancar o diplomata Geminiano, traduzir calado e bancar que o papagaio da vizinha (como teria entrado?) roeu o dicionário, não pude traduzir/pesquisar e não entendi nada.

“Sou sempre muito bem recebida na casa aqui ao lado, onde não me tratam como gaijin (estrangeiro, para o japonês). Ah, como (como? - pergunto EU.........) EU era antes de você!!! EU era a espirituosa que animava o grupo de amigos (em sociologia, etos) e “vigiava” o fogo do lar, como grega ou romana, para que nunca se apagasse. Sou atual também, só que o meu modismo não é a sua ’praia’ - só aposta em ícones tradicionais, como por exemplo uma pedra sagrada chinesa, verde (jade): EU vi na gaveta das cuecas... Corte oblíquo na borda de um objeto (chanfro), sim, da minha existência tranquila. Sei economizar, cortar custos inúteis em planilhas mentais - visibilizei gastos, cancelei passeios e quaisquer extravagâncias sem afetar fogão. Muito trabalho e pouco reconhecimento, alto nível de estresse. Vou embora. Um salto para fora do armário-prisão. Nada de veículo ferroviário (trem): irei embora num cuter (veleiro de um só mastro), pegarei um rio na mesma direção seguida pelos colonizadores dos States (oeste), sem mariscos aderindo ao casco (cracas), divertindo-me com um emboca-bola (brinquedo bilboquê), sem lhe dar um mínimo plá (uma dica) do meu fado (destino). Não pague taxa à autoridade eclesiástica (anata) para me achar nem use adivinhação por meio de gomancia (ovo), muito menos homem-santo hindu (asceta). Pois é, você não sabe me atrair com agrados (mimar). Não nascemos unidos, colados (adesos), enlouqueci e desviei minha luz (refratei) da direção primitiva /ela, carioca/ e troquei de cidade a seu favor!!! As declarações prestadas como se fossem a sua parte no processo judicial (oitivas) a mim não convencem... Como se mau garçom me servisse carne em tiras (lanho)... sem música para alegrar a festa. Terei a meu favor um dispositivo constitucional que não pode ser revisto (cláusula pétrea), EU fundamentada (baseada) em “crueldade mental” (?). Gravata vermelha - cor traiçoeira - só porque alertei: de um lado, significa poder, energia, forma; de outro, agressividade, alerta, estresse - bom medir a pressão antes... Não sou água, porém você tenta me absorver para suas células (osmose), sorver, tragar minha vida (libar). Falha sempre. Não sabe conversar (prosear)... Não me valoriza como a coluna de sustentáculo das pontes da sua vida (pilar), mão de obra não aproveitada (ociosa). Será que fui realmente a única detentora do cargo (titular) de esposa? Seu amor é ilegítimo, desonesto (espúrio). Nesta constante vagarosidade, morosidade (lerdeza), muito longe ainda de velho, idoso (anoso), olhe para o céu e contemple a constelação ‘trapezial’ (Orion), com saudades... Estou na parte central do furacão (olho)... A marido, não irei exorar (implorar, suplicar) coisa alguma... jamais!”

Espertinha, pensa que é, mas o passatempo está na minha assinatura digital de jornal do Rio de Janeiro......

Prometendo ir embora desde a hora inicial em que nos conhecemos. Deixar para trás uma “ estátua preciosa” (palavras dela)???

NOTA DO AUTOR:

PALAVRAS CRUZADAS - Desde o século IV a. C., ‘laterculus’ entre os antigos romanos; passatempo achado nas ruínas de Pompeia, cidade italiana destruída no ano 79 pela erupção do Vesúvio. Primeira vez no jornal New York World. Dezembro/1913, edição dominical.

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