Remédio Caseiro

Morena ia caminhando pela ponte do Barreiro, pra pegar o ônibus, quando encontrou uma parenta do marido de sua irmã, a senhora Maria Tabaquinha e entre novidades e antigas lembranças veio a tona a tão perturbadora moléstia.

- Oi Morena, como vai você? Tens noticias do Benedito com a Wilse.

- Ah! Vou muito bem obrigada. Eu vim agora pouco da casa deles, e eles estão mais ou menos.

- Mas o que aconteceu?

- A Miricutinha, filha da Wirce, está agoniada com o filho, que está no inicio da catapora.

- Ah! Meu Deus, isso é andaço. Coitada, mas é aquela menina que é a cara da “Lhana”?

- Acho que é, pois a Wirce só tem uma filha. Os outros são, o Afonso e o Carlinho.

- Ah o Afonso, é aquele que é a cara do “Mirto”.

- Como ia dizendo o garotinho esta enjoadinho. Coitadinho, uma febre, mas a Catapora ainda não saiu toda.

- Hum Mana, acho que vou fazer uma visita, pois remédio bom pra colocar pra fora essa Catapora é o chá do Sabugueiro e eu até tenho no meu quintar.

- É isso mesmo, Maria. Olha que conversando com a Wirce e com a Miricutinha, tentei lembrar, desse chá, porém, não consegui. E esse chá é excelente. Se tu tens mana, seria bom levar, iria ajudar bastante.

- É Morena, mas acho que só vou lá amanhã, pois já está anoitecendo e eu tô com dificuldade pra enxergar a noite, desse lado do olho.

E mostrou o olho direito pra Morena, que sem se fazer de rogada lhe ensinou um remédio caseiro.

- Olha minha mana, eu tive um pobrema iguarzinho, mas curei com a pedra umes.

- Como assim Morena?

- Peguei a pedra umes e só risquei na água e pus nos meus olhos e noutro dia, fiquei boazinha.

- É só pegar riscar na água e pronto.

- Eh em!

- Ah minha mana antão vou fazer, quando chegar em casa.

- Tá bom, mana, foi bom te ver, mas eu já estou indo pra parada pegar o Dijarma Dutra, porque ainda vou na casa da Nazaré, levar essa água benta, que o padre me deu, dai da igreja do Perpetuo Socorro.

- Vieste da novena danada?

- Vim, por isso passei na casa da Wirce com o Bené. Mas vê se não esquece de levar as folhas do sabugueiro pra Miricutinha fazer o chá pro Albertinho.

- Ah é mesmo. Acho que vou logo lá. Visito a todos, vejo a Maricota, que me lembra muito a “lhana” e depois, quando tiver em casa, ponho o teu remédio no olho.

- Isso mesmo, inté.

Depois das duas se despedirem, dona Maria Tabaquinha deu meia volta. E foi a sua casa, pegou algumas folhas de Sabugueiro e foi pra casa da Benedito.

Lá chegando entregou as folhas, tomou um café com farinha de tapioca, deu boas risadas e no caminho pra sua casa, passou antes na taberna “ A Vez é Sua”, comprou a pedra umes e foi-se ansiosa pra experimentar a receita da Morena.

No dia seguinte à janela, apreciando de sua palafita o rio, com um óculos escuro a vizinha a indagou.

- Vizinha Maria o que a senhora tem na vista, pra estar com esse óculos escuro?

- Ah minha mana, uma tar de Morena me deu uma receita, de remédio caseiro, que era pra eu lavar aquele olho que mal enxergava, com pedra umes e acho que até fiquei cega de vez.

E levantou os óculos escuros, onde por trás estava o olho meio murcho. A Vizinha perplexa finalizou:

- Pai d’ égua, de tanto que a senhora fez, que agora a senhora ficou cega de vez.