Óh de casa...

Ó de casa, alta nobreza,

Mandai-nos abrir a porta,

Ponde a toalha na mesa

Com caldo quente da horta!

Teni, ferrinhos de prata,

Ao toque desta sanfona!

Trazemos ovos de prata

Fresquinhos, prá vossa dona.

Senhora dona de casa,

À ilharga do seu Joaquim,

Vermelha como uma brasa

E alva como um jasmim!

Vimos honrar a Jesus

Numas palhinhas deitado:

O candeio está sem luz

Numa arribana de gado.

Mas uma estrela dianteira

Arde no céu, que regala!

A palha ficou trigueira,

Os pastorinhos sem fala.

Dá-lhe calorzinho a vaca,

O carvoeiro uma murra,

A velha o que traz na saca,

Seus olho mansos a burra.

Já as janeiras vieram,

Os Reis estão a chegar,

Os anos amadurecem:

Estamos para durar!

Já lá vem Dom Melchior

Sentado no seu camelo

Cantar as loas de cor

Ao cair do caramelo.

O incenso, mirra e oiro,

Que cheirais e luzis tanto,

Não valeis aquele tesoiro

Do nosso Menino santo!

Abride a porta ao peregrino,

Que vem de num longe, à neve,

De ver nascer o Menino

Nas palhinhas do preseve.

Acabou-se esta cantiga,

Vamos agora à chacota:

Já enchemos a barriga,

Sigamos nossa derrota!

Rico vinho, santa broa

Calça o fraco, veste os nus!

Voltaremos a Lisboa

Pró ano, querendo Jesus.

Vitorino Nemésio

Vitorino Nemésio
Enviado por LAURO PAIXÃO em 27/11/2016
Código do texto: T5836096
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