LEMBRANÇAS DE KADATH A CIDADE FANTASMA

As vicissitudes que tínhamos que passar sob o sol escaldante e a escassez de água marcaram nossas almas com estigmas inacessíveis até mesmo para Osíris, o senhor supremo de nossa pirâmide espiritual.

Nessa era áurea onde o contato com Rá estava mais próximo do visível e do real. O homem conhecia o Ka, o segundo corpo, as plantas que era à base de sua alimentação e as estrelas.

Nessa mesma época travávamos diálogos com os seres angélicos e naturais, pois o véu de Isis não derramava seu julgo sobre nosso povo. Nossa linhagem cuidava para que o povo não saísse dos ditames do supremo e o seu enviado, o faraó era a autoridade máxima reconhecida pelos nossos sábios e sua educação desde pequeno era rígida. Era uma alma de um magnetismo atraente que atraía até seus servos e instrutores.

Conseguia encantar do mais humilde ao mais sábio dos humanos. De acordo com as previsões terríveis feitas pelos nossos astrólogos o culto a vários Deuses era disseminado por alguns sacerdotes que foram expulsos do Reino e tinham seu maior ícone em Anúbis.

Os adoradores do sol tentaram de todas as formas conscientizar o povo do poder de Rá e seus filhos que eram chamados de Osirificados (Osíris) esses usavam uma coroa com uma serpente no meio dos olhos, simbolizando o domínio sobre o olho espiritual e sobre a Kun, serpente sexual (kundaline). Os sacerdotes de Anúbis; chamados Núbios adoravam o dragão, uma forma deturpada de serpente sagrada. Nos seus templos o sexo era pregado como forma de magia e cada “iniciado” possuía várias nubientes (noivas). Nós amávamos o faraó e sua palavra era a voz do supremo. Estávamos lá quando se deu o termino da construção mais fabulosa do mundo. Construídas exatamente, uma embaixo de cada estrela da constelação de Orion. Seria o último presente de Rá ao nosso povo que rapidamente o esqueceu e o abandonou por Anúbis e outros Deuses. Talvez pela falta do que fazer, a ociosidade trouxe caos e dúvida ao povo.

O faraó furioso pediu que nossos sacerdotes expulsassem os núbios e restabelecesse a ordem, eles alegaram que era uma provação ao reinado.

A resposta não agradou ao faraó que pediu que fosse chamado um sacerdote nubiano, e uma batalha foi travada entre Rá e Anúbis, entre Sol e Lua, luz e trevas, pela alma do faraó que votou para que Anúbis fosse o novo Deus e com ele o panteão egípcio.

Antes de partir nossos antigos sacerdotes, vendo que Ra abandonara o Egito e seu povo, profetizou:

- Rá voltara em outro povo, com outro nome e virá ao Egito, mas não para exalta-lo faraó!

Poucos acompanharam os sacerdotes de Rá que foram chamados de Raduc (os que saem), isso marcou a personalidade do faraó que escravizou os que não queriam ama-lo e matou os que tentavam ajuda-lo. Quando a faca de um dos sacerdotes transpassou o coração de minha eterna amada, abandonei o faraó e jurei vingança. De servo leal e humilde, passei a inimigo.

Infiltrei-me entre os soldados com outro nome e aprendi Tambaterp, a luta egípcia. Quando achei que estava pronto para mata-lo, entrei as escondidas em seus aposentos e fui surpreendido pelos sacerdotes que preveram cada passo meu. Fui morto como traidor aos pés de Anúbis, em holocausto minha alma ardia com ódio e vingança.

Naquele momento sombrio onde nada mais valia, senti meu corpo vivo e dolorido pelas torturas impostas antes do golpe fatal. Clamei por Rá para que me tirasse a segunda vida. Vozes vieram em meu auxilio pedindo que abandonasse a vingança. Não pude! Tudo o que amava morreu por causa do ego do faraó e ele pagaria. Senti que cada vez mais a escuridão se apossava de mim. Fui esquecendo meu nome, minha velhice, minha juventude, minha infância.

Temi não por minha segunda e escura vida, mas se o esquecimento continuasse, eu esqueceria meu grande amor e minha vingança, fiz um esforço para lembrar o nome de Anúbis que era pronunciado diferente. Esse nome veio depois.

Rapidamente ele me ouviu, e me tirou da loucura e do esquecimento. A partir dali, seria uma alma maldita do seu exercito. Pactos foram feitos e fui libertado para vagar de acordo com minha vontade, minha curiosidade levou-me direto em busca dos Raducs, que agora se chamavam Saduceus e alguns assênios, estava, esperando ainda o Osifiricado, o último enviado de Rá.

Acordei no ano previsto por nossos antigos astrólogos, que pelo que me disse meu cicerone, seguiram para o mundo de Rá, ou seja, estavam todos mortos. Segui o mais rápido que pude para ver o faraó e tristemente constatei que também ele tinha partido e o faraó do novo e decadente Egito era um ser dividido entre política, fortuna e magia e sua corte era construída por servos de Anúbis.

Quanto tempo eu havia passado naquela maldita cegueira e esquecimento?

Não foi me dado saber sobre o tempo, era uma das formas de controle de Anúbis sobre os servos. Vaguei até o fim das minhas forças em busca do corpo que pudesse estar guardando a alma da minha eterna, sem sucesso. Foi um castigo de Rá, ter nos separado.

Eu sabia. Quando não consegui mais me mover, meu acompanhante levou-me ao campo dos exércitos negros, vi seres poderosíssimos sentados em tronos, enquanto sacerdotes nubianos degolavam virgens para seu deleite energético.

O sangue emanava o prana que alimentava todo o exército.

Aos prantos bebi o néctar negro, misturado ao salgado gosto das minhas lágrimas.

Sabia que era uma escolha e que podia nega-la, mas não estava pronto para minha segunda morte.

Queria viver; queria encontra-la, quanto mais prana bebia mais cego pelo poder ficava. O mundo era de Anúbis. Por todos os lados havia pedras de sacrifício e isso facilitava nossa locomoção.

Perdi a noção do bem e do mal e vi quando o raio desceu a terra anunciando uma nova guerra. Era chegado o momento da queda do Egito e o fim do poder dos faraós. As novas almas estavam prontas para voltar.

Era o exército de Rá. Os sacerdotes antigos, adoradores das estrelas voltaram com o nome de magos, e preveram que o Osirificado viria, e que uma estrela apontaria o local. O mundo mudou e seres poderosos ameaçaram o reinado da escuridão.

Muitas vezes escapei de ser capturado, pois meu acompanhante era exímio em transmutação energética. Quando o mundo não era mais local seguro para seres como nós. Os antigos criaram a primeira cidade / umbral chamada Kadath.

Seu nome possui vários significados. Quando em uma de minhas andanças, vi sua alma em um corpo, pedi baixa do exército de Anúbis, agora kadatiano. Meu acompanhante perguntou se estava louco; se iria perder tudo que conquistara, fiz minha escolha e ele a dele.

Fui jogado na escuridão e o esquecimento novamente apossou-se de mim. Dessa vez não roguei, não pedi.

Estava pronto para revê-la ou morrer tentando. Entrei novamente na dolorosa matéria.

Quem pode julgar?

Fui grego, italiano, tibetano, espanhol, mas nunca, nunca mesmo deixei de ser kadatiano.

Quanto ao meu antigo inimigo e ao meu grande amor.

É um outro conto.

Para sempre kadatiano.

Lorde Kronos Bikoirn

Mens.De Kadath.

kronos
Enviado por kronos em 21/12/2016
Código do texto: T5859468
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