"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 38

Beluzzi olhou a tabela meio por cima e pediu o contrato e a planta.
- Meu amor, mostre-me aqui os lotes que reservou pra você.
- Para nós...
- Que seja. Onde estão eles na planta?
- Aqui, nesta região mais maravilhosa que todas as outras da área.
- Então faça para mim a reserva dos oito lotes seguidos ao último seu. Preço à vista. Pago no cacau. Cash.
Eliane pegou um contrato na gaveta, preencheu os dados do coronel e acrescentou um nono lote sem nada cobrar a mais.
- Seu cic e rg por gentileza, senhor coronel. Cliente eu trato com deferência.
- Estão aqui, minha senhora.
- Então assine nesta linha aqui embaixo e receba o nono lote como brinde especial para um cliente bom de cama. E suas filhas, quando virão conhecer o nosso paraíso?
- Não sei, meu anjo. Até agora não consegui a companhia das duas. Mas creio que virão logo. Estão curiosas por causa do meu entusiasmo pelo lugar. Só não vieram ainda porque não puderam mesmo. Mudando de assunto, lembrei-me que tenho uma piada pra te contar. Acabei de ouvir e achei muito boa.
- Adoro suas piadas. Tenho uma pena de não saber contar com jeito...
- Um rapaz vinha andando pela calçada e uma bichinha vinha ao lado dele, mas não se conheciam. De repente uma criança caiu do terceiro andar de um prédio e a bichinha deu um salto fabuloso, agarrou a criança em pleno ar e a salvou. O rapaz ficou mais que admirado com a agilidade “dela” e comentou: “Porra! Que reflexo maravilhoso você tem!! . A bichinha afofou os cabelos e toda sorridente perguntou: É Koleston. Você gostou?
Eliane riu muito da piada, mas riu ainda mais ao ver o coronel machão imitando a fala e os trejeitos da bichinha.

A entrega da casa especial da entrada sofreu um grande atraso, mas a construtora não pagou multa alguma. A culpa fora toda de Eliane, que modificara todos seus planos iniciais e a cada vez inventava uma novidade mais e mais sofisticada. Cada vez maior, melhor, mais luxuosa e imponente em todos os detalhes. Levara consigo um arquiteto famos, acostumado a satisfazer as exigências dos “tubarões” de São Paulo, e refizera toda a planta da casa com a muito cara assistência dele. Se o fizesse por sua conta, sabia que correria o risco de dar bandeira, de demonstrar que não conhecia mesmo o gosto das pessoas que têm dinheiro às toneladas e por várias gerações.
O dono da construtora sorria abertamente, feliz da vida quando via Eliane aproximando-se. Sua encomenda fora a melhor coisa que lhe acontecera durante toda sua vida profissional. E as futuras encomendas de casas que fatalmente lhe fariam, quando as vendas do loteamento estivessem mais adiantadas, lhe tiravam o sono de tanta expectativa. Faria para Eliane a melhor casa possível cobrando-lhe o menor preço que pudesse. Lera a história do cabeleireiro que ficara riquíssimo atendendo de graça um apresentador famosíssimo e não cobrando de personalidades influentes. Os clientes de Eliane lhe trariam muitos e imensos lucros em um futuro próximo, ele tinha absoluta certeza, e aquela casa, a da dona do loteamento, era seu cartão de visitas. Era só caprichar ao máximo agora e esperar pelos resultados.
- Dona Eliane, eu estou apostando todas minhas fichas em seu projeto. Vou lhe fazer um preço pela casa que não faria para minha própria filha, mas a senhora tem que jurar que nunca o contará a ninguém. A senhora dirá que pagou pelo menos o dobro.
- Fique tranqüilo, seu Dirceu. O senhor terá que, no mínimo, dobrar seu pessoal para dar conta do recado dentro de pouco tempo. Quem trabalha direito comigo só tem a ganhar. Capriche, capriche muito, e o senhor só terá muito a ganhar. Muito mesmo.
- Dona Eliane, se meus lucros futuros forem tão bonitos quanto a senhora...
- E o senhor é a simpatia em pessoa, seu Dirceu. Apareça mais no loteamento. O senhor ainda não escolheu nem um lotezinho...
- Irei sim, dona Eliane. Pode reservar uns dois para mim e depois é só me avisar que eu passo para assinar a compra. Quanto a senhora me cobrará cada um deles?
- Não se preocupe, meu amigo. Vou lhe fazer pela tabela antiga. (“Vá esperando...)

No primeiro fim-de-semana que Carlos voltou a São Pedro, veio acompanhado das filhas e todo sorridente. Conseguira “caçar” as meninas e levá-las com ele na viagem e isso o deixara muito feliz. As moças, constatou Eliane, realmente haviam saído ao pai na beleza física e eram extremamente simpáticas e bem-educadas. Abraçaram Eliane com afeto e beijaram-na com muito carinho. Logo depois queriam saber se havia cavalos ou um jipe para que pudessem percorrer logo todo o loteamento. Eliane indicou um galpão ao longe onde guardava alguns velhos jipes e aconselhou-as a pegarem o de cor azul mais forte por ser o melhor deles.
- Rodem à vontade por aí, meninas, mas lembrem-se que a hora do almoço já está bem próxima e que é melhor a gente chegar cedo ao Barracão do Doca. Depois de uma da tarde aquilo lá lota de um jeito que fica difícil conseguir uma mesa. Não dá nem pra entrar. Comida simples, gostosa, farta e variada. O pai de vocês ficou freguesão da salada de cebola e de tudo mais.
Nos finais de semana o loteamento ficava quase deserto. Eliane ainda não havia iniciado a publicidade nem a corretagem do local . Os funcionários da obra não trabalhavam e apenas as três corretoras vindas da imobiliária de Santos faziam um ainda monótono plantão, feito mais para constar e atender a algum eventual visitante. Muito de vez em quando uma família entrava ali para conhecer o empreendimento, mas mais por simples curiosidade, e Eliane não fazia nenhuma questão ainda de vender.
- Meu querido coronel, não lhe contei ainda uma novidade que me deixou maravilhada. Mas acho melhor não lhe contar aqui e agora. Vamos dar um passeio que eu quero lhe mostrar de pertinho o lugarzinho que descobri e que será sempre só nosso. Meu, seu, e das meninas. Pegue o meu carro e vamos lá, amor.
Carlos buscou o carro de Eliane, um carro velho e forte que ela comprara para usar naquela terra ainda não arruada, e esperou que ela embarcasse.
- Vire a primeira à direita e vá até o final. Depois irei mostrando o resto do caminho.
Percorreram um comprido trecho e quanto mais andavam mais Carlos ficava admirado com a extensão da fazenda comprada pela amante.
- Você ainda não viu nada, amor. Isso aqui, se fosse no Japão, valeria muitíssimos milhões de dólares. Você sabia que só a área ocupada pelo palácio imperial de lá tem o mesmo valor que toda a Califórnia?
- Nunca ouvi isso antes.
- Pois é. Aqui nós temos terra sobrando pra todo lado e gente se matando e morrendo de fome por falta de um pedaço de terra pra cultivar. Olhe, é ali. Está vendo aquelas mangueiras enormes? Elas escondem a jóia rara que deixarei escondida para nosso uso muito particular.
Carlos parou o carro e os dois percorreram o forte declive apontado por Eliane.
- Olhe, amor, veja só que coisa maravilhosa: as árvores rodeiam o laguinho mais lindo que você já viu em toda sua vida, mas o mais gostoso você só saberá quando mergulhar naquela ágüinha tão azul.

Os dois despiram-se totalmente, deixaram as roupas no chão, correram em direção ao laguinho e, executando um belo salto, mergulharam profundamente.

Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 31/07/2007
Código do texto: T587101
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