"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 39

- Não notou nada ainda de diferente no laguinho, meu querido coronel?
- É mesmo, meu amor...A água está quentinha e o dia não está nada quente. Você mandou instalar um lago térmico aqui?
- Deve ter sido Deus quem mandou instalar. Quando o sol está de rachar a água fica fresquinha, quase gelada. É uma maravilha total da natureza, não é mesmo?
Os dois já estavam dentro do lago havia um bom tempo quando ouviram o barulho do motor do jipe azul, o que permitira às moças o passeio pelo loteamento.
- Amor, suas meninas estão chegando. Não vai vestir pelo menos uma cueca?
Beluzzi apenas sorriu e não respondeu.
Logo as duas moças surgiam à beira do lago, sorridentes e animadas:
- Que folga, hein? A gente se desconjuntando no jipe e os dois aí se refestelando na água. Peladões e curtindo numa boa...A água está muito fria?
- Entrem logo, meninas. Entrem logo e conheçam essa maravilha da natureza.
Sem demora e sem qualquer cerimônia as duas moças despiram-se completamente, colocaram as pontas de seus pés na água e não acreditaram logo que ela estivesse tão quentinha.
- Pai, que maravilha!! Parece a piscina aquecida do clube!
- Não é mesmo, filhinhas? Podem pular aqui sem medo algum.
As duas mergulharam e voltaram à tona maravilhadas.
- Eliane, de um laguinho desses a gente não tem vontade de sair nunca mais. Você vai deixar que todos os compradores o conheçam? Isso seria um atrativo maravilhoso a mais. Ou pretende escondê-lo só pra nós?
- Andréa, sabe que acho que vou mesmo é escondê-lo só para o nosso uso? Eu sei que até valorizaria os lotes, mas não pretendo ter que disputar uma vaga a cada vez que quiser mergulhar nele.
Eliane conversava com as moças, mas seu pensamento estava mesmo era na naturalidade com que o coronel e suas filhas encaravam a nudez em família. Uma genuína surpresa para Eliane.
- Assustou-se com a naturalidade com que as meninas ficaram nuas em minha presença, amor? Desde que elas eram pequenas que temos o hábito de passar férias em colônias nudistas. Nunca tivemos esses preconceitos em casa. É claro que desde que fôssemos apenas nós, os da família mesmo. Fiquei admirado é por elas terem ficado nuas em sua presença. Sinal de que já a aceitaram como da família. Está mais que aceita na “tribo”, pelo visto. Caso contrário teriam ficado pelo menos com as roupas de baixo.
- É bom saber disso, meu querido. Eu também adorei as duas, mas se me chamarem de mamãe eu meto o braço. Sou só um pouquinho mais velha que elas..
- Mas, se quer mesmo saber, parece ter a mesma idade que as duas. Eu é que fico parecendo pai de três moças lindas.
- Parece nada...Estou até achando que na corporação vocês dispõem de um serviço secreto de cirurgia plástica...
- Temos sim. Cirurgia plástica, depilação, cuidados com a pele, haute-coifeur, manicure e pedicure. Mas só para os oficiais de alta patente.
Riram gostosamente, chamando assim a atenção das moças.
- Que risadaria boa é essa? Podem contar logo que nós também queremos rir.
- Esse palhaço do seu pai. Ele acabou de me contar um segredo da corporação que eu vou dividir com vocês. Vocês sabiam que lá na corporação eles têm até serviços de manicure e pedicure? Sem contar os de cirurgia plástica e cabeleireiros..
- A gente sabia sim, Eliane. Às vezes ele chega em casa soprando as unhas pra secarem mais depressa, com os cabelos cheios de bóbis e com os pelinhos todos arrancados. Passa uma semana lisinho que só vendo...
Eliane imaginou o coronel agindo de acordo com a brincadeira da filha e chegou a chorar de tanto rir, acompanhada pelos três.
Quando conseguiu parar de rir avisou que estava na hora de irem embora. Seria uma pena perder o almoço no Barracão do Doca, em especial a famosa salada de cebolas, cortadas tão finas quanto uma folha de papel.
Pularam todos para fora do lago, enxugaram-se com exagero e pressa brincalhona uns aos outros e embarcaram logo nos dois carros.
Nem ao menos passaram no escritório para uma penteada rápida nos cabelos e chegaram ao restaurante com todo o jeito de que haviam saído da água naquele instante.
Tanto Carlos quanto as filhas adoraram a comida caseira, maravilhosamente temperada e servida com fartura. Sem contar a simpatia dos proprietários e filhos.
Depois do almoço foram até Águas de São Pedro a fim de conhecer a linda cidadezinha, analisar o potencial da mesma para a vida profissional, e as famosas água minerais curativas. Maravilharam-se com uma das muitas bicas, na qual bastava deixar a água escorrer pelas mãos por um curto espaço de tempo e a pele se alisava como por mágica, ficando semelhante a pele de criança.
Foram tantas as cabeças brancas que viram passar que não puderam deixar de brincar:
- Pai, se a gente der um berro no meio da rua mata pelo menos uma meia dúzia de susto. Nunca vi tantos velhinhos ao mesmo tempo, mas a cidade é lindinha mesmo. Parece um presépio em tamanho grande. E aquele prédio enorme ali, o que é ele?
- Ali é o Grande Hotel São Pedro, um hotel-escola do Senac. Nele é treinado o pessoal para cuidar da administração e execução de serviços dos hotéis. Famoso. Vamos tirar umas fotos na cidade e perto do hotel?
- Claro, amor. Nunca me sentirei tão jovem em outro lugar...
- Mesmo com essa cabeleira tão branquinha, pai?
- Mesmo assim. O único lugar de meu corpo que envelheceu, por enquanto, foi a “cobertura”, e mesmo assim apenas como um disfarce para o meu trabalho. Antes que me esqueça, para jantar eu prefiro variar hoje.
- É mesmo, querido? Onde você gostaria de jantar? Em algum restaurante aqui em Águas?
- Não, minha morena. No Barracão da Esposa do Doca.
- Acabamos de almoçar e já está pensando no jantar....
- Normalmente eu não sou assim, mas acho que esse ar puro abre o apetite da gente.
- Abre nada. Escancara. Se eu morar por aqui por algum tempo acho que vou virar uma baleia de tanto comer, não é, mana?
- Também acho. A menos que a gente fique morando no loteamento e vá e volte pra casa todos os dias a pé.
- Boa idéia. Em poucos meses pesaremos cinqüenta quilos, mas as duas juntas. Cada uma com vinte e cinco.
Passearam por Águas de São Pedro por mais algum tempo e voltaram para São Pedro. Depois de um bom banho voltariam ao Barracão do Doca para um jantar que queriam tão bom ou melhor que o almoço. Não se decepcionaram. Durante o jantar conversaram sobre a conveniência de morarem todos em São Pedro. Concordaram que em breve não haveria problema algum. As moças, nascidas e criadas em Santos. não achavam que haveria qualquer problema de adaptação a uma cidade sem mar, sem praia. Nenhuma das duas deixaria na cidade natal alguém muito especial, que lhes fosse fazer falta de verdade. O coronel logo estaria na reserva, bem remunerado, com o futuro garantido e com uma excelente poupança em espécie. Da casa não se desfaria nunca, mas gostaria ele também de passar a levar uma vida mais tranqüila, mais rotineira e sossegada, sem compromisso urgente com coisa alguma.
- E vocês dois, pai? Vão se casar ou continuar a terrível vida pecaminosa de amasiados?
- Vamos continuar na vida pecaminosa de amasiados, minha querida. Já combinei com Eliane que vamos deixar passar mais um tempo da morte de sua mãe antes de firmarmos algum compromisso.
- Simpático da parte de vocês, pai. Principalmente levando-se em conta o relacionamento de vocês, você e mamãe.
- Não me faça lembrar de certas coisas, filhinha. Acabei de jantar e não gosto de me aborrecer de barriga cheia.

=Continua amanhã

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 03/08/2007
Reeditado em 03/08/2007
Código do texto: T590838
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