Imperfeitas e Impávidas

Vamos lá! Soltando pipa senhorita! Cadê o sorriso? Essa era a frase que sempre ouvíamos de minha mãe Ianê, ela cuidava da gente com muito capricho, penteava nossos cabelos compridos todos os dias antes de dormirmos e não podia ver nenhuma de nós cabisbaixa.

Meu nome é Iasmin, sou a caçula de sete irmãs, Ieda, Ione, Ivana, Ivone, Iana e Iara, fomos criadas sem futilidades, gostávamos mesmo era de sentar de pernas abertas e de dar muitas gargalhadas. Quando conversávamos era só alegria, dizíamos uma bobagem atrás da outra e nossas brincadeiras tolas me fascinavam, jogávamos travesseiros umas nas outras, pulávamos no colchão ou fazíamos cócegas até quase ficarmos sem fôlego. Sempre alegres, brincalhonas, muito companheiras. Até as brigas eram divertidas.

O tempo passou e minhas irmãs aos poucos se casaram. Fui ficando cada vez mais só, assistindo as muitas mudanças que aconteciam em cada uma delas. Não conseguia me conformar, minhas irmãs já não brincavam como antigamente, pareciam estar agora com medo, sérias, sempre preocupadas, falando baixinho, cheias de “não me toques” e “disse me disse”.

Enquanto criança, sem entender muito bem o que estava acontecendo, estranhava muito as atitudes delas, não mais as reconhecia. Comecei então a investigar o porquê dessas mudanças. Queria achar de qualquer jeito um culpado, em minha santa ingenuidade desconfiei que o vilão da história pudesse ser o tal do papel assinado, pois cada vez que umas das minhas irmãs se casavam assinavam papéis.

Apesar de não simpatizar com o casamento, surgiu Pedro, um belo rapaz pelo qual me apaixonei, resolvemos então marcar o casamento. Por ironia do destino, nessa mesma época minha família estava dividindo os bens, fazendo inventário, vendendo terrenos e assinando uma infinidade de papéis. Pessoas queridas da família que até então se davam muito bem começaram a se desentender. O vilão da história voltou a atacar.

O dia do casamento chegou e imediatamente associei nossas assinaturas às posses dos bens, como se meu marido estivesse se apropriando de mim e eu dele, o medo se apoderou de mim, pensei em minhas irmãs, como elas haviam mudado, ficaram chatas, pensei nas brigas da família, me deu uma vontade tremenda de sumir dali, no entanto, não tive coragem e me casei.

Alguns anos se passaram e duas lindas filhas nasceram dessa união, Isis e Iris, porém, as impressões hostis sobre o casamento não me abandonaram.

Eu tinha verdadeira adoração por Pedro, mas, não para fazer sexo igual acontecia normalmente com todos os casais, eu não queria assim, meu amor por ele era diferente, havia se transformado em amizade e junto a esse sentimento veio à ideia da separação, e o caso mal resolvido com o tal do papel assinado ressurgiu. Só que dessa vez contraditório.

Pensei que ao assinar os papéis da separação perderia Pedro para sempre, cortaria completamente a relação com ele, essa ideia de nunca mais vê-lo ou conversar com ele me apavorava. Sofri, pensei, repensei, tomei coragem e decidi:

- Quero a nossa separação Pedro, mas sem assinar papel. Sabe muito bem o que penso a esse respeito.

Inconformado Pedro disse: - O quê? Separação? Mas... Por quê? Não entendo.

Expliquei tudo e, para minha surpresa, ele concordou com a separação amigável sem ter que assinar nenhum papel. Separamo-nos e continuamos a nos cuidar, fazer carinho, conversar e ficamos ainda mais unidos.

Algum tempo depois, após muita resistência de minha parte, as circunstâncias nos obrigaram a separação as via de fato, com papel assinado, dessa forma, pude compreender que nada mudaria nosso relacionamento e que as mudanças que ocorreram no comportamento de minhas irmãs aconteceriam quer eu queira quer não, pois elas aconteceram comigo também, finalmente o caso ficou resolvido, fiz as pazes com o digníssimo papel que deixou de ser definitivamente o vilão da minha história.

Hoje, mulheres imperfeitas e impávidas, somos além de irmãs, grandes amigas, os papos agora são outros e nem por isso deixaram de ser divertidos, continuamos a gostar de sentar de pernas abertas e damos muitas gargalhadas. Eu, Iasmim, me casei com Irene, olha que coincidência! Continuo completamente apaixonada por Pedro, com o mesmo amor diferente. Ele se casou novamente e me tornei a melhor amiga de sua esposa.

Novas gerações de mulheres nasceram e as iniciais dos seus nomes continuaram sendo com a letra I. O único problema que ainda persiste nessa tribo é que jamais conseguirão colocar os pingos nos seus “Is”, não só por serem “Is” maiúsculos, mas, também, por serem mulheres totalmente Imperfeitas e Impávidas.