Antes, Depois, Durante

'Antes'

Conheci Copacabana desempregado, nas mais completas férias. Eram férias para acabar quando estivesse com vontade de regressar, eram férias que poderiam não ter regresso. Andava com um saco de trazer ao ombro, um mapa, um caderno, carteira, uma esferográfica. Não levava comigo a toalha de banho, nem uns calções para ir até ao mar. Acontece que fui até Copacabana acompanhado, tinha-a conhecido num pequeno recital. Ela aí morava, num enorme apartamento virado para a praia, desfrutando duma vista deslumbrante: a marginal a perder de vista para um e outro lado. Do seu apartamento revi novamente a linha, na transição de tonalidades de azul, do horizonte. Hoje, passados muitos anos, querendo contar como conheci Copacabana, direi que foi ouvindo "Copacabana princesinha do mar" na letra da canção, dando a mão a outra mão, dizendo talvez:

- Quero recordar Copacabana como o momento em que te beijei pela primeira vez, a tal vez que nunca mais esquecemos!

Estou na praia, à beira mar, o tempo é como se não tivesse passado. As suas marcas são-me exteriores, por dentro não envelheci.

'Depois'

O antes foi o encontro com Copacabana, o depois é agora. Do antes gosto da nitidez com que posso falar daquilo que me lembro, misturando memórias: música e contacto sensorial. Lendo o que escrevi, o antes projectado no depois, é uma história simples: o local, a praia, uma marginal de cidade cheia de vida, junto mão dada, companhia, panorâmica obtida duma janela ampla. O agora, no depois, é outra história. Escrevo tentando fazer do conto, um novo encontro. Quero-o, procuro-o?

A resposta deveria ser um Sim, claro e sem sombra de dúvida. Seria isso bom para a história? Essa é a resposta que procuro, Sim ou Não são indiferentes, a história irá para onde eu e ela nos conduzirmos. "Copacabana", o primeiro título, "Antes e Depois", novo título. Título que, enquanto tema, já estava presente no antes. No depois... apenas a diferença dada pela distância, Copacabana fica longe, no Rio de Janeiro, Brasil.

Acabo a história pensando acrescentar aos dois títulos, um terceiro para terminar entrando ainda e sempre na dimensão do tempo: o Cristo Rei, do Corcovado no Rio, foi eleito uma das Novas Sete Maravilhas Do Mundo.

'Durante'

Agora o sol aproxima-se da linha do horizonte e entramos no crepúsculo, na passagem do dia para a noite. Será esta a maior das transições nas nossas vidas, do antes para o depois? Mudar "do dia para a noite", conseguir contar uma história onde este momento fique gravado com as cores soberbas dum crepúsculo que me pede pare de escrever e fique a observar!

Fecho o caderno, a minha mão procura a tua. Voltamos a um antes donde volto ao depois, agora, sempre renovado. Novo momento para tentar ainda acabar o mesmo conto, num regresso a "Copacabana a Princesinha do Mar".

- Antes de me beijar, diz que me ama!?

Beijei-a, era assim que lhe queria dizer que a amava. Antes da beijar, convicto no poder das palavras ainda a convenci a não querer uma resposta diferente daquela que ambos queríamos. Continuei a falar e fui dizendo que o amor, o dizer "eu amo-te" fazia parte da nossa necessidade de ter certezas e querer com elas guardar memórias mais duradoras que a vida, memórias para além da morte. Pelo que nos devíamos beijar quando o sol mergulhasse no oceano, mas isso não aconteceu no Antes. No Rio o Sol põe-se em terra mas, aqui..., lá e aqui, antes e depois, beijámo-nos durante o crepúsculo - como se o "filme" precisasse deste colorido - para acabar.

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 05/08/2007
Reeditado em 05/08/2007
Código do texto: T593348